Fabio Pozzebom

“Polenta com mungunzá e pamonha… O que é Brasília? É isso. É você colocar no mesmo prato as três coisas e mandar bala!”

Entrevista com Fabio Pozzebom, músico e repórter fotográfico, morador do Guará-DF.

Gravação realizada no Orbis Estúdio, em Vicente Pires-DF, no dia 14 de dezembro de 2019.
Entrevistadores: Domingos de Salvi, Sara de Melo, Daniel Choma e Tati Costa.
Transcrição: Tati Costa. Fotos e editoração: Daniel Choma.

Fabio Pozzebom nasceu em Brasília-DF em 07 de junho de 1976.

Fabio: Eu sou daqui de Brasília mesmo. Eu nasci aqui e com duas semanas de vida fui entregue pra minha avó, que morava em fazendas aqui da região do município de Cocalzinho, Corumbá. Minha família toda é de Corumbá de Goiás, aqui e aí o pessoal sempre ficou orbitando ali nessa região de Cocalzinho, Corumbá, Pirenópolis. Aí com duas semanas eu já fui morar em fazenda e fiquei lá até os onze [anos]. Quando eu falei, não, preciso estudar porque senão a coisa complica. E não tinha escola lá. Aí formação musical foi meu avô. Desde sempre ouvindo Zé Bettio, ouvindo aquelas coisas no rádio lá o tempo todo. E eu sempre gostei muito de cantar, mas não tinha ninguém na família. Meu avô mesmo não cantava. Mas foi através dele que eu conheci Alvarenga e Ranchinho, Tibagi e Miltinho, todas essas duplas, o próprio Tonico e Tinoco. Ele tinha várias fitas cassete do Tonico e Tinoco. Aí foi a partir daí que eu fui moldando o gosto pela música caipira. De lá pra cá! Aí comecei a mexer com música, sempre cantava, mas ninguém tocava nada, só galinha, porco, vaca, essas coisas! [Risos] E aí em [19]94 um tio me deu um violão. Falou: “Bicho, aprende aí cara, porque fica cantando…” Aí ia todo mundo no Natal pra lá, todo mundo cantando, mas ninguém tocava nada. Aí fui atrás de revistinha Dó, Sol aquela coisa toda no violão. Mas nunca tinha pensado em ser profissional, até porque eu não sou até hoje… E comecei a trabalhar com fotografia e quando eu estava fazendo meu portfólio pra tirar o registro profissional, eu queria alguma coisa de cultura popular que não tinha. Eu precisava ter alguns segmentos assim, política, esportes e não tinha nada de cultura popular. Aí meu tio me deu a ideia, esse mesmo tio do violão, falou: “Cara, vai ter uma Folia de Reis, Folia do Divino aqui. A galera vai a cavalo, vai girar as fazendas, acho que isso aí da foto.” Falei: “Me põe dentro aí, eu vou.” E eu e cavalo não temos a menor intimidade… [Risos] Fui assim mesmo, era pra ficar uma semana eu fiquei dois dias. Não tinha condições! Mas rendeu, rendeu muita foto. Aí nesse segundo dia eu estava como folião então tinha divisa no peito, seguir as regras lá tudo certinho, mas eu fotografava. Aí num segundo dia, antes tinha rolado o bendito de mesa, o povo estava indo comer e tal. O violeiro, que eram dois violeiros. O violeiro pegou e falou: “Ó, toma aí.” E jogou a viola na minha mão. Aí eu falei: “Não, mas eu não sei tocar viola não.” Ele falou: “Mas eu sei que você toca violão, as duas cordas debaixo é igual. Vai lá.” Aí largou a viola comigo e eu fiquei lá: blem, blem, blem. Quando ele voltou, falei: “Ó rapaz, acho que é parecido o negócio mesmo!” Aí ele falou: “Então vamos embora, toca uns recortado aí que eu vou dançar catira agora!” E aí foi o batismo da viola. Eu já saí de lá com essa coisa na ideia de que, cara, tudo que eu tentava fazer no violão não era no violão, era da viola. Entendeu? Porque o repertório era caipira, mas não tocava viola. E aí eu comprei uma violinha, comecei e foi quando eu fui atrás e consegui entrar na Escola de Música [de Brasília]. Tive a honra de estudar com o Roberto [Corrêa] lá um tempo até ele se aposentar.

Domingos: Vamos chegar nessa história aí! Mas lá ainda na sua infância, como era lá no sítio, o que você fazia?

Fabio: Minha avó nunca me deixou trabalhar na roça. Ela sempre falava: “Não, você não vai mexer com roça, você tem que estudar, tem que estudar.” Aí eu ficava mais brincando, mas eu acabava ajudando meu avô na horta. Ele tinha uma horta lá e aí tinha algumas funções pra eu fazer assim, tipo tirar ovo de borboleta da folha da couve. Isso era diário! Aguar os canteiros de manhã e de tarde. Ficar de olho nos matos que cresciam lá. Tirar o broto do pé de tomate. Isso é importante, cara. Importante, pé de tomate tem um brotinho que nasce ali você tem que tirar senão ele não dá tomate. Aí eu ficava mais cuidando disso e cantando, sempre cantando. Meu avô falava: “Aquela música que você ouviu, já aprendeu?” Aí a gente pegava e cantava lá enquanto estava ajudando ele na roça. Mas tinha o problema de estudar, esse que era o negócio. Não tinha escola perto. Não tinha jeito. E essa última fazenda que eu morei ela ficava oito quilômetros. A escola ficava a oito quilômetros e tinha um rio. A gente morava do lado de lá do rio. Então nesse período de chuva agora, quando chovia não tinha condições, não tinha como ir pra escola, não tinha o que fazer. Aí ficava, o rio enchia, ficava ilhado. Aí eu ficava fazendo marcações na beira do rio, não sei se você sabe como é isso? Não? Você chega na beira do rio ele está cheio. Aí arrumava uma vara, coisa assim enfiava onde a água estava, na lama. Ia embora. Aí no outro dia você voltava. Aí você procura onde que a vara está. Ela afundou ou ela ficou lá pra trás. Se ela afundou o rio está enchendo ainda, não tem o que fazer. Aí ficava nessa marcação de ver: ah não, amanhã já dá pra ir pra escola que o rio está baixando. E isso aí eu fiquei lá até os onze [anos] nessa labuta de tentar estudar e ajudando o vô até que falei: gente, não tem jeito, tem que ir. Com onze ainda estava no segundo ano ainda. Falei, caramba, estou atrasado tenho que correr atrás. Aí foi quando eu vim embora pra cá pra Brasília.

Domingos: E seu avô gostava de ouvir você cantar? Era só a capela?

Fabio: Ele pedia. Era. Mas meu avô era muito bravo, muito xucro, da roça mesmo assim. Era do tipo que você chegava pra ele, acordava de manhã: “Benção vô.” Ele: “Deus abençoe.” Era assim. Às vezes quando ia na roça que ele estava lá trabalhando, você chegava perto ou estava caçando passarinho, alguma coisa assim. Aí ele já falava: “Bora menino, vaza daqui, vou cortar você no facão aqui!” [Risos] Mas era um carinho doido. Tinha um respeito por ele fenomenal. Aí no fim do dia, quando ele voltava da roça, tirava aquela roupa cheia de barro, aquela coisa. Porque o velho era terrível, chovendo, com sol, ele estava lá capinando do mesmo jeito. Não tinha essa coisa não. Aí ele sentava, acendia um cigarrinho, ligava o rádio dele lá, sabe? Ele falava: “Olha, essa música aqui é boa. Essa aqui é fulano de tal.” Ele conhecia tudo, sabia os nomes das duplas tudo. Falava: “Essa é dupla tal, música tal.” Ficava lá fumando o cigarrinho dele e ouvindo as modas. E no fim de semana tomava uma pinguinha. Aí era só alegria! Ele virava outra pessoa! [Risos] Aí chamava pra cantar. Sentava no colo. Era uma beleza! Agora durante a semana não. Ai, ai…

Domingos: O que você cantava, você lembra alguma coisinha que você cantava a capela naquela época.

Fabio: Meu tio, um outro tio meu comprava umas revistinhas, não sei se vocês lembram disso, que vinha assim: modinha. Aí era uma publicação pequena, parecia um livreto de bolso e aí tinha a letra das músicas. Mas só a letra, não tinha cifra. Aí era pra você cantar junto olhando a letra. Coisa muito doida, assim como se fosse um encarte de disco, mas era uma publicação. Lembro disso, assim [tamanho] dez por quinze. E eu lembro que meu tio levou uma do Sergio Reis. Tinha esses clássicos de regravação e tudo. “Boiadeiro errante.” Tinha muita música do Zé Carreiro e Carreirinho. Acho que tinha uma revista dessa lá. Quando era festa, alguma coisa, na época da seca principalmente, você fazia uma fogueirinha lá na frente da casa, ficava todo mundo, conversava, depois acabava o assunto começava a cantar. Sempre ali em volta da fogueira, no alpendre de casa mesmo. Época muito boa! [Risos] A vida muito sofrida, muito difícil. Nessa fazenda ainda era boa porque tinha luz. Tinha luz, no fundo da casa era fenomenal, no fundo da casa tinha uma bica d´água, cara. Você dormia com barulho de cachoeira o tempo inteiro. Era a bica d´água. Que era a água que a gente puxava pra aguar a horta e que era do lado da casa dessa fazenda que a gente morou. Isso aqui no município de Cocalzinho também. E a gente morou em outra. Morou em várias na verdade. Mas eu me recordo bem só de duas, que foram as duas últimas.

Também no município ali próximo a Edilândia, que é onde o povo todo mora hoje, setenta quilômetros aqui de Brasília. E lá era complicado, cara, lá era difícil. Porque não tinha água. No local lá não tinha água, a água vinha de longe pra caramba, com mangueira, essa mangueira preta. Não tinha luz também. Na casa não tinha piso, era piso de terra mesmo, sabe? E meu avô meio que desbravou o troço lá, cara. Porque só tinha a casa, um curral velho na porta e sei lá, em um ano e pouco que ele estava lá já estava totalmente formado, estava cheio de planta pra todo lado. O velho era danado! E a água vinha de longe pra caramba. Quando a gente chegou lá a única coisa que tinha lá era cobra. Cobra, meu amigo do céu, nunca vi tanta cascavel! E era cascavel, não era qualquer uma não. Pra brincar no quintal você tinha que por bota, aquelas botas de borracha. Eu lembro perfeitamente disso, foi quando eu aprendi a ver, diferenciar coral falsa da verdadeira! Pra você ver o tanto que tinha. Jararaca, jararacuçu, cascavel. Cascavel, era uma loucura, sabe? No começo eu lembro quando a gente começou a criar galinha lá ficava disputando. Será que o pintinho vai vingar ou a cobra vai comer? [Risos] Muito doido isso, cara. Lá no início foi muito difícil, sabe? E depois a gente saiu pra essa outra onde já tinha mais estrutura de eletricidade, já tinha mais a água. Eu me lembro que meu avô falava: “Olha gente, sem luz dá pra viver, mas sem água fica difícil.” Porque o problema da água vir de longe não era só questão da estrutura que você tinha que fazer. Mas é porque tinha gado no caminho e o gado come tudo. Aí ele comia a mangueira de água, cara, era direto isso. Ah, meu Deus, acabou a água. Aí o velho tinha que ir lá procurar a mangueira. A mangueira era toda enterrada mesmo assim o bicho achava e comia o troço, sabe? Essa fazenda que a gente morou, na verdade não era fazenda, era um sítio, um trecho de uma fazenda maior. Foi que eu fiz, tem um poema pra ela, está até aqui.  

[Recita]

“Soneto do retiro”

No meu retiro retirante
Tudo era ermo
Sem luz, sem água
Sem tempero

Um sopé de morro descambado
Cheio de cobra e meleta do cerrado
No paiol contava as fileiras de milho
Se der quinze a gente vai ficar rico

Enquanto não, vamos pra plantação
Catar abóbora pra servir de ração
E haja vista pra enxergar o horizonte
E haja sal pra espantar os curiangos

Os passarinhos de lá cantavam tão longe
Que o tiro da dois canos era infame
Não tinha peixe
Nem rio

Nem estudo
Só nós lá
Feliz
Fingindo ter futuro


Domingos: Nesse lugar onde tinha cobra tinha rezador [benzedor] de cobra?

Fabio: Humhum. Tinha uma velha benzedeira lá que dizia que era. Ah não, vou lá fazer umas rezas. Eu digo que não tinha, mas tinha essa mulher. Mas como eu não acreditava muito… [Risos] Porque não adiantava! Eu lembro disso até hoje que ela ia lá e ela era bem idosa já, ela devia ter uns quase setenta anos e sempre arrastando um menininho pequeno perto dela. Eu falava, gente, deve ser neto, bisneto, eu sei lá. E eu me lembro disso como se fosse hoje. Ela ia lá pelo menos uma vez por mês. E aí disse que ia rezar pra tirar as cobras de lá, as cascavel, bicho o cerradão lá era bravo mesmo, cerrado bruto assim. E aí ela pegava umas ervas lá e diz que fazia as rezas pra poder a gente pagar ela com açúcar, rapadura, farinha, essas coisas. Ela não rezava nada, ela ia lá por causa dos mantimentos! [Risos] Mas eu lembro que achei muito engraçado que ela sempre andava com um menininho eu achava que o menino era neto dela. Não era cara, era filho dela. Mas ninguém sabia nada onde aquela mulher morava, mas ela estava sempre com o menino e ela amamentava o menino. Muito doido assim a história. Não adiantava nada não, as cobras ficavam tudo lá do mesmo jeito! [Risos]

Domingos: Fabio, daí você vem direto pra Brasília?

Fabio: Foi, eu vim morar na casa de uma tia, de um tio na verdade, pra continuar os estudos. Mas eu sempre gostei muito de escrever. Mesmo nessa época que eu morava lá na fazenda eu já tinha algumas coisas escritas, alguns versinhos escritos, uns versos aqui e acolá. Aí depois que eu vim pra cá que eu pude seguir os estudos eu continuei escrevendo. Então, antes de ser cantador eu já escrevia, já tinha muito verso. E sempre tem uma coisa com soneto. Eu devo ter mais de cem sonetos guardados de diversos temas. Alguns já consegui musicar, outros não. Eu sempre tive muita facilidade com a letra das coisas. De ouvir, por exemplo, a música e conseguir achar um mote ali e fazer a letra pra ela. Eu lembro, com quatorze anos eu já tinha um caderno com mais de cem versos, sabe? Tudo bonitinho, escrito ali pra não perder. Mas não conseguia musicar. Ainda não consigo muito até hoje, ainda tenho dificuldade com a parte de harmonia mesmo. Mas às vezes a música vem inteira. Já aconteceu várias vezes de sonhar e acordava de madrugada com a música, corria pegar o celular e gravar ali para não esquecer. Teve uma que eu sonhei com a Bethânia cantando, inclusive! Está gravado! [Risos] Essa foi uma das que veio pronta, não precisei fazer nada, nunca mexi em nada. E outras não, outras eu pego o tema e vou trabalhando. Como essa que eu fiz com o Marquinhos. Só que essa do Marquinhos já foi o contrário. Ele fez a letra e me mandou a letra: “Você acha que isso aí funciona, tal?” Peguei a letra falei: “Cara acho que sim.” E acabou virando a música. Mas é raro isso. A maioria das vezes eu boto a letra pra depois fazer a melodia. E às vezes nasce junta.

Domingos: E da sua chegada em Brasília você lembra bem como foram as primeiras impressões da cidade?

Fabio: A gente vinha sempre pra cá. Sempre, minha avó vinha pelo menos uma vez por mês. A gente sempre estava aqui em Brasília em consulta de médico, essas coisas. Mas aqui, Brasília em si não mudou muito, a não ser as outras cidades que apareceram. A Ceilândia não tinha a QNR, não tinha aquela área expansão. Mas o que mudou mesmo foi Águas Lindas. A gente passava ali quase sempre não tinha nada. Hoje você tem uma cidade, sei lá, deve ter quase meio milhão de habitantes lá. Se não tiver mais. A gente vinha de lá pra cá de ônibus mesmo, pra essas consultas, enfim… Aí foi quando eu decidi vir pra cá. Porque ficar aqui na roça é excelente, é bom, mas não dá. Se você criar raiz você não consegue, como diz o outro, raiz só vai pra baixo! [Risos] Tem que crescer e dar frutos a história! E aí foi quando eu vim pra cá e deu tudo certo de vir morar com a minha tia pra seguir nos estudos.

Domingos: Aí você ficou um tempo morando com ela?

Fabio: Foi, eu fiquei com ela uns dois anos ou mais. E aí calhou que minha mãe já estava com a vida mais estabelecida, eu fui morar com ela. Isso na cidade Ocidental. Ela morava na Cidade Ocidental que é aqui no entorno de Brasília. Aí minha tia morava em Taguatinga, daqui depois eu fui pra morar com ela na Cidade Ocidental. Eu já estava. É eu fiquei uns três anos aqui, porque lá eu já fui, já estava no ginásio. Já estava no quinto ano. Aí eu morei algum tempo com a minha mãe que estava trabalhando num consultório de dentista aqui em Brasília que por acaso o cara estava precisando de alguém pra ficar no consultório, pra atender telefone, essas coisas. Nessa época eu tinha quinze anos. E minha mãe falou: “Você quer ir pra lá?” Eu falei: pô, aí eu vou deixar de estudar no Goiás pra estudar em Brasília de novo, acho que é vantajoso. Eu já estava iniciando o ensino médio. Aí eu vim, cara, morar sozinho aqui no consultório. Tinha quinze pra dezesseis anos e aí não voltei mais, fiquei aqui, já concluindo o ensino médio, estudando e tal. E sempre tocando. Violão e escrevendo. Acho que esse período de solidão aí dos dezessete aos dezenove, posso dizer, acho que foi mais profícuo pra escrever. Você tem que lidar com a solidão de algum jeito. Porque as pessoas não ficavam lá, eu ficava a semana toda sozinho lá. Aí eu estudava de manhã, voltava à tarde, dava uma corrida, alguma coisa e no resto do tempo estava com tempo livre pra fazer um ou outro trabalho que tinha lá e estudar. Aí sobrava muito tempo livre pra escrever. Foi o período que eu mais escrevi, mais fiz, vários, vários poemas. Tem que publicar isso um dia! [Risos].

Domingos: E você tinha o sentimento de solidão? Você chegava a se sentir em solidão?

Fabio: Sim. Você precisa na verdade aprender a conviver com você mesmo. Se autoconhecer. Isso é fundamental. É bom cara, no fim das contas porque você acaba se conhecendo tanto que você não se deixa ludibriar fácil. Não, espera aí… Não é bem assim não! E eu nunca fui de ter muitos amigos, sabe? Nesse período eu tinha alguns amigos que até tenho até hoje, mas nunca fui um cara extremamente popular, assim, de ter vários amigos, de convites, não. Era mais recluso mesmo e escrevendo o tempo todo. E eu acho que lidar com a solidão acabou meio que virando… Porque ela acaba te gerando sentimentos ruins, você acha que você está meio jogado, meio isolado. E você precisa ter uma forma de expurgar isso, de você falar: “Não, espera aí, esse aqui não sou eu. Então vamos tentar direcionar isso aqui prum canto.” Aí acho que pra mim foram os poemas mesmo, foi com a escrita e com a música. Mas uma coisa engraçada, a primeira música que eu fiz foi em [19]99, cara. Você vê, cinco anos depois desse período de solidão. Eu já estava casado e foi quando eu fiz a primeira música. Ou seja, não sei se estava depurando, sei lá, enfim. Mas demorou um pouco a cair a ficha. Cara, isso aqui pode virar uma música, sabe? É engraçado isso. Hoje quando eu vejo alguns poemas, falo, isso aqui é fácil de musicar. Isso aqui está dentro de uma métrica. Mas talvez pela vivência já dentro da música. Mas na época não, era mesmo só o poema… Que não paga conta de ninguém!  [Risos]    (Continua…)