Claudivan Santiago
- seção: entrevistas
“A viola é o instrumento que simboliza o Brasil.”
Entrevista com o músico Claudivan Santiago, morador do Guará-DF.
Gravação realizada no Orbis Estúdio, em Vicente Pires-DF, no dia 12 de dezembro de 2019.
Entrevistadores: Domingos de Salvi, Sara de Melo, Daniel Choma e Tati Costa.
Transcrição: Tati Costa. Fotos e editoração: Daniel Choma.
Claudivan Santiago nasceu em Tocantinópolis-TO em 17 de março de 1972.
[Toca na viola e canta a música “Guerra dos mundos”, de sua autoria]:
O vento bate na porta
A porta sente o pulsar
A gentileza se move
Em direção ao luar
Eis que um ser tão maltrapilho
Parece, ali, implorar
Pra se livrar do castigo
Que tanto lhe faz chorar
A meia-noite é calma como um furacão
A meia-noite revela a alma do meu sertão
Do sertão
Um galho seco, translúcido
À sombra de quem não vê
Revela o mais absurdo
Do que puderam fazer
Vidas jogadas no lixo
Corpos queimados no chão
Da natureza, um cisco
Da sutileza, um não
A meia-noite é calma como um furacão
A meia-noite revela a alma do meu sertão
Do sertão
Do colorido das matas
À sombra em plena raiz
Da fluidez das cascatas
À sequidão infeliz
Faces cruéis de dois mundos
Dá ao amor a insensatez
Da beleza ao caos profundo
Do tudo o nada se fez
A meia-noite é calma como um furacão
A meia-noite revela a alma do meu sertão
Do sertão…
Claudivan: A minha ideia do instrumento é dar uma renovada. Eu falo sempre pras pessoas sobre isso, a gente tem um instrumento que é muito rico. A viola caipira é um instrumento super rico, mas nós estamos no século XXI. Então não adianta… claro, tem pessoas que têm aquela ideia conservadora do puritanismo do instrumento. ‘Ah, não pode misturar com contrabaixo, não pode misturar com isso…’ Eu sou da linha inversa, eu acho que a gente tem que misturar tudo. Tudo é música. Tudo é instrumento, tudo é musicalidade. Então a ideia do disco foi isso, trazer algo diferente com a cara do século XXI. Embora respeite naturalmente (quem pensa o contrário). Tião Carreiro, quando fez o sucesso na década de 60, 50, 60, cara, ele era a coisa mais nova que havia. Há um tempo atrás, o Almir Sater era a coisa mais nova que havia. Por isso esses caras conquistaram espaço. Então, se a gente pensar: “Ah, não! Vou gravar só como Tião carreiro gravou na década de 40.” Ou como o Tonico e Tinoco gravaram, como o Carreirinho… Zé Carreiro e Carreirinho. Aí fica complicado, a gente não traz nada de novo.
Domingos: Legal, mas é engraçado como a viola vai evoluindo, mas ainda algumas ideias persistem, não é? Por exemplo, você fala a alma do meu sertão?
Claudivan: Sim.
Domingos: Qual é o seu sertão?
Claudivan: Olha o engraçado: a viola pra mim tem um significado muito… eu digo até, a minha concepção do instrumento, da viola, é uma coisa que vai além da materialidade. Pra mim é algo espiritual. Quando eu me deparei com a viola, eu não tive consciência. Durante algum tempo é que eu comecei a adquirir a consciência do que era viola, do que ela representava pra mim e como ela fazia parte da minha vida, desde a (minha) origem. Pra vocês terem uma ideia, eu nasci no interior do Tocantins, num povoadinho muito pequeno que devia ter, sei lá, umas quatrocentas, trezentas casas, talvez. Em 1972, norte de Goiás muito isolado e… fui passar a morar com minha avó paterna logo com quatro meses de idade, porque minha mãe adoeceu, teve que morar no Rio de Janeiro durante quase três anos. E eu e mais seis irmãos – eu sou o mais novo de seis irmãos – ficamos todos espalhados. Aquela coisa, naquela época minha mãe teve tuberculose, era uma doença terrível. Era como câncer. Até câncer hoje em dia já é mais tranquilo, mas sempre é terrível. Então ficamos todos (espalhados), um foi morar na casa do tio, outro de outro tio, outro na casa de um padrinho. E aí todo mundo! Eu, com quatro meses de idade, fiquei na casa da minha avó. Minha avó paterna, uma pessoa muito bacana que adorava música. Minha avó amava (a música), a paixão dela era dançar. Ela dançava, ela rodava dez, quinze, vinte, trinta quilômetros só pra dançar a noite todinha um forró. A noite todinha, da hora que começava o forró até o dia amanhecer. Isso até com quase 87 anos. Então ela tinha uma alegria de viver muito grande. Ela cantava quando a gente estava na chapada buscando um gado, e eu montado na garupa do burro com ela. E ela falando dessas coisas da vida, sabe? Que ela adorava cantar, que a música era isso. E eu acho que isso ficou impregnado em mim. E meu pai é músico também. Meu pai começou a tocar com dez, doze anos, tocando sanfona. Já tem oitenta e dois e até hoje toca direto em casa. E aí eu, por volta de doze anos, eu até doze, treze, catorze anos nunca tive influência pela música. Acompanhava meu pai, via os forrós, aquelas coisas, assistia as rodas de reisado, aquelas coisas todas, o batuque. A gente tinha aquela roda de lindô, que a gente chama no sertão, dança de roda. Todo tipo, o cara fazendo repente lá com pandeiro, aquelas duplas. Então uma coisa bem caipira mesmo, só que eu não tinha noção disso. E por volta de doze anos um dia minha avó me trouxe uma violinha de presente. Uma violinha de buriti. Que o Tocantins tem a viola de buriti. Buriti não sei se vocês conhecem, aquela palmeira que dá na água, nas beiras d´água. Tem um caroço que a gente lembra escama de peixe. E lá tem muito. E aí lá tem um artesão parente nosso lá chamado Oliveira. E um dia minha avó mandou o Oliveira fazer uma violinha de Buriti. Ela tinha um corpinho mais ou menos isso aqui, ó. Com dois gomos de buriti, tal, um buraquinho no meio. Umas quatro cordinhas daquelas de linha de pescar. Fez aquela coisinha assim e eu brincava, batia e tal. Não tinha noção de afinação de nada. E aí eu fui morar com meu pai na cidade, já com treze anos pra estudar numa cidade perto da minha avó. E aí passei a acompanhar meu pai nas festas, tocando baile, forró, festejos e tudo. Campanha política, aquelas coisas. E aí eu comecei a ter vontade de entrar na banda do meu pai. Comecei primeiro com a sanfona, em [19]85, 86. Mas aí eu vi que meu pai não ia largar a sanfona, eu falei: “eu tenho que entrar na banda, então como é que vou entrar na banda?” [Risos] Aí só tinha um baixista e tinha um guitarrista que eram músicos de fora. Aí eu comecei a tocar o violão. Em (19)87 o músico saiu, eu entrei no lugar do guitarrista, já tocando violão. E aí fiz carreira, toquei em banda, aí gravei meu primeiro disco tocando MPB no Tocantins em 2002. Vim pra Brasília em 2003. Casei com uma goiana em 2005. Aí eu comecei a ter mais contato com essa cultura goiana, essa que você vai em Goiás numa festa lá de trinta pessoas tem umas seis duplas. Informais, não é? Junta um ali, o outro já está na segunda (voz), o outro está na primeira. [Risos] É dupla pronta! Impressionante como o Goiás é isso! Como o Goiás é rico! Às vezes você senta numa roda, aí alguém começa a cantar, vem uma mulher e começa a fazer uma segunda. Cara, impressionante! Parece que está na genética deles! Eu acho impressionante! E aí, como eu já vinha há muito tempo cantando na noite, e por eu ter um timbre de voz, uma extensão de voz limitada, eu não alcanço agudos assim… e nem muito tanto os graves. Aí com uma professora lá do Tocantins, do SESI, eu fui pegar umas aulas (de canto), professora Iracema, ela disse: “Por que, Claudivan, você não trabalha bem um repertório pra noite? Você vai ter que adequar isso! A sua extensão vocal é disso aqui pra isso aqui (faz gestos com a mão mostrando o tamanho da extensão vocal). Então você vai procurar cantores que estão nessa região vocal. E você monta seu repertório com base nisso. Não adianta você cantar Zezé di Camargo, cantar Bruno e Marrone lá em cima! Ou então cantar um gravezão…” Aí eu comecei a seguir essa norma. E aí eu identifiquei alguns timbres bem nessa linha (da minha extensão vocal). Renato Teixeira, que tem um trabalho fantástico… aí comecei a ouvir Almir Sater…, fui lá, comprei uns discos dos caras, tal. E aí foi começando. Quando eu vim pra Brasília, em 2003, eu já estava sentindo necessidade da viola. Porque eu tocava violão, MPB, toquei em banda de axé, com dupla sertaneja, fiz trabalho de MPB. Aí quando eu fui tocar aquelas coisas do Almir, eu tocava já na noite com violão, eu queria fazer aquela música [Toca trecho na viola] o violão não dava isso aqui. Aí falei: caramba, que instrumento que faz isso? Como o Almir faz esse negócio? E eu no Goiás! No Tocantins não tem a viola, não é como Goiás que a viola é presente, no entorno de Brasília, interior de Minas [Gerais], tal… São Paulo, que a viola tem em todo canto. Tocantins não tinha. Eu não fui criado com viola caipira. Aí de repente, quando cheguei em Brasília, comecei a ouvir (a viola caipira). Comecei a ver o Roberto Corrêa tocando, o Cacai Nunes. Aí vi o Zé Mulato e Cassiano. Aí vi os violeiros dessa região fazendo as rodas de viola, as Folias de Reis… e aí comecei a ver essa coisa. Falei: “Cara, é isso! O negócio é bom.” Aí, em 2005 eu fui lá e comprei uma viola. (Não) Sabia nada de viola. Peguei, mas como eu era músico, tocava violão…. vou aprender viola! Aí comecei como um doido, comprei a viola. Mas eu sempre cito isso que a coisa decisiva pra eu pegar a viola foi um dia em que eu assisti o Renato Andrade. Eu estava em casa. Nessa época eu era solteiro ainda, início de 2005. Eu estava no meu apartamento no sudoeste assistindo (tevê), aí liguei a TV Senado. Quando eu ligo, lá está o Renato Andrade, cara! Tocando lá mais o Serra Grande. Serra Grande violeiro [violonista] dele. Fazendo aquelas coisas [Exemplifica na viola] Fazendo cada escaramuça, como a gente fala! [Risos] Na viola! Falei: “Cara isso é impossível o cara fazer isso na viola.” Aí fiquei louco, digo, vou aprender viola, vou tentar aprender, seguir esse cara. Fui lá, comprei uma violinha Rozini, comecei a estudar. E aí o engraçado é que, olha, eu já tocava violão, que era o meu instrumento, guitarra que é meu instrumento, tocava um pouco de contrabaixo, tocava um pouco de teclado que nas noites de forró, às vezes meu pai cansava na festa e eu pegava, entregava a guitarra pro meu outro irmão, ficava no teclado acompanhando, tocando, solando. Sempre tive essa facilidade. E toda vida gostei da música. Mas, cara, quando encontrei com essa viola pelo amor de Deus, cara, foi uma loucura! Sério mesmo, foi uma coisa…! E aí eu fui estudar viola, fui ouvir os caras, fui ouvir os violeiros tradicionais. E uma coisa me marcou muito quando eu vi um violeiro uma vez num documentário dizendo assim: que a viola, não é o violeiro que escolhe a viola, é a viola que escolhe o violeiro. Engraçado! E os caras falam assim que a viola quando chama parece que ela te prende, assim. E foi assim como eu me senti, eu tinha acabado de casar. A minha esposa estava grávida, acho que de cinco, seis meses, quando eu comprei essa viola. E ela viu que eu fiquei enlouquecido, que eu chegava do trabalho de noite, uma da manhã e eu ia pra televisão, ligava, botava um pano aqui (debaixo das cordas, abafando o som) pra não incomodar, pra tentar aprender o pagode, pra fazer a mão do pagode, e foi igual doido. Ela ficou louca, quase que acabou o casamento! [Risos] Aí foi que eu fui perceber que a viola já vinha na minha origem. Na verdade a viola já estava em mim. Foi como se eu tivesse, através da viola, voltado lá praquela infância que eu tive… Pra essência de tudo que eu era. Então na verdade eu sou um caipira e a viola veio só aflorar essa história toda. [Risos]
Domingos: E por que você acha que a viola tem essa força, às vezes ela captura pessoas que não necessariamente têm essa raiz, uma coisa mais rural, de onde vem essa força da viola?
Claudivan: Eu digo pra você que a viola, as pessoas dizem que tem um enigma, é meio enigmática, a viola meio que é uma coisa… Às vezes uns falam: pra você tocar bem tem que fazer um pacto, não é? E, engraçado que assim que eu… acho que foi em 2009, ou 2010. Eu estava um dia à tarde tocando, e eu ficava ouvindo muito vários amigos da viola, vários depoimentos, e os caras contando aquela história e muitos falavam: ó… esse negócio do pacto que as pessoas falam eu já ouço isso, já fui criado ouvindo isso. Que meu pai sempre fala: “Meu filho, tem gente que realmente fala que faz pacto.” Meu pai conheceu um sanfoneiro ali na região de Imperatriz, Grajaú, no Maranhão, sei lá, década de [19]50, não sei. Que meu pai, cara, meu pai é um sanfoneiro de mão cheia. Um dom extraordinário! Meu pai toca coisas complexas demais sem nunca saber nem o que é uma… acho que ele nunca estudou uma escala musical, mas é nato. Tocar chorinhos complicados de Noca do Acordeom, essas coisas mais complexas de pensar. Toca tudo, sabe? Com uma destreza que quando a gente tocava baile faziam roda, várias vezes antes desse forró novo do nordeste estourar, muitos empresários chamaram ele pro nordeste pra tocar, porque gostavam demais, gente rica. Mas meu pai falava que quando ele viu um sanfoneiro lá na região de Grajaú ele falou que nunca tinha visto uma pessoa tocar daquele jeito. Porque o cara, ele falou: “Meu filho, aquele certamente tinha feito um pacto.” Esse sanfoneiro se chamava Guri. E meu pai disse que esse homem era muito desorganizado. Ele tinha uma mulherzinha lá, morava assim desorganizado, não tinha… financeiramente desorganizado. Pobre, bebia muita cachaça. Era assim, andava molambento, sabe? Aí o pessoal contratava ele (pra tocar uma festa), (ele) chegava, sentava numa cadeira, e meu pai disse que ele chegava no salão e pegava… Meu pai disse que viu isso, ouviu. Viu e ouviu várias vezes. Ele passava uma mão na outra assim, puxava os dedos e trrrrrrr (som de estalar de dedos) depois passava na outra mão, trrrrr (som de estalar de dedos) estalava assim os dedos. Dali pra frente, meu pai disse que ele se transformava. Meu pai disse que era uma coisa de outro mundo. Você ficava: “O cara não consegue tocar isso pessoalmente, assim, do nada”. Meu pai disse que nunca viu ele ensaiar. E de repente o cara virava um monstro. No interior do maranhão. Só que ele bebia demais. Ele bebia muito. E bebia que meu pai disse que ele fazia as necessidades dele às vezes tocando sanfona, olhava estava todo… sabe, urinava, e às vezes as pessoas tinham que pegar ele, sair dali arrastado. E aí, quando eu (estava) ouvindo essas coisas, um dia eu estava em casa estudando viola, aí quando eu parei assim aí fiquei, rapaz, pensei comigo: Cara, eu não conseguia fazer os solos do Tião Carreiro com aquelas coisas… [Exemplifica na viola] Eu achava difícil, os dedos duros. Falei: “Meu pai do céu, será que vou ter que fazer um pacto pra tocar essa viola?” Aí eu pensei assim comigo e falei: não, mas eu tenho Deus na minha vida. Deus é maior. Maior do que qualquer coisa. É o Deus que é dono de todos os talentos. Assim, no pouco entendimento que eu tenho de música, pra mim não existe um instrumento mais brasileiro do que a viola. Pra mim esse instrumento aqui pra mim simboliza o Brasil. Se você tiver assim (uma pergunta): qual o instrumento musical que você diria esse aqui é o Brasil? Digo: esse aqui você pode chamar de Brasil. Porque a viola chegou no Brasil em 1549. Eu já pesquisei bastante, não sei se há algum outro registro de algum outro instrumento que tenha vindo lá nas caravelas, mas outro dia inclusive eu fui ler a carta de Pero Vaz de Caminha pra ver se eu tirava essa dúvida. Mas eu não consegui ler até o final que é muito longa, mas até onde eu li não vi relato de instrumento, de nada. Ah, porque alguém tocou uma lira, alguém tocou não sei o quê. Não! Não vi nada. Agora, a viola chegou em 1549. Então a viola tem essa força porque a identidade brasileira foi criada através da viola. Os padres jesuítas foram quem… eles deram a identidade ao brasileiro. Porque não existia brasileiro, existia índio. Eles trouxeram a ideia europeia, trouxeram o pensamento religioso, que o poder da igreja católica era muito grande. Eles então pegaram um índio que era cru na nossa visão e formataram, é como você pegar um HD zerado do computador e programar ali, botar as coisas que você quer. E a viola foi fundamental porque a viola foi utilizada pra isso. Então eles pegaram a viola, utilizaram a viola e começaram (a catequização). E a viola se adaptou que parece que foi feita (sob encomenda), o Brasil foi feito pra ela e ela foi feita pro Brasil. Então, na minha opinião, a viola é algo… essa força pra mim acho que vem disso. Porque ela estava ali, como se diz, no batente. Você imagina que a viola, quando você pensa nos desbravadores que saíram do interior, os caçadores de esmeraldas, o que eles carregavam nas costas? Eram espingardas, facões, tal, tal e muitos uma violinha dentro de um saco de pano. Então imagina, não foi um piano! Não foi um violão europeu! Foi a viola, cara! Isso aqui é Brasil demais! Isso aqui tem uma carga de representatividade, ela tem um poder tão grande que ninguém tira. Então, nós estamos no século XXI falando da viola. A viola é um dos maiores shows das duplas sertanejas de hoje. A viola no concerto, numa juventude hoje que eu vejo às vezes no youtube, na internet, molequinho com sete, oito anos tocando, destroçando a viola. Entendeu? E todo mundo pesquisando Tião Carreiro, pesquisando Renato Andrade, pesquisando Carreiro e Carreirinho, aqueles caras lá de longe… Quer dizer, essa origem está sendo cada vez mais buscada e eu acho isso muito importante. Por isso é que a viola pra mim é o instrumento que simboliza o Brasil.
Domingos: Você acha que tem alguma composição que expresse um pouco dessa força do instrumento? Alguma composição sua?
Claudivan: Eu tenho um disco que pra mim foi muito representativo e tem esse simbolismo da viola que foi um disco que eu fiz… o primeiro disco que eu fiz de viola foi em 2008. Eu tinha três anos de estudo de viola [Risos], autodidata, sozinho. Mas eu tenho uma coisa comigo que eu tenho uma compulsividade na criação. Eu crio muito. Então, por isso que eu até hoje nunca deixei a música, porque eu não tenho como deixar a música. Se eu deixar a música é como se eu estivesse arrancando metade do Claudivan e jogando pra lá, então eu seria só metade. Eu não consigo viver sem essa música. Embora eu tenha mais investido nela, mas o que ela me traz é prazer. É cabeça boa, é alegria, felicidade. Isso não tem preço. As pessoas falam: “Ah, mas por que você toca?” Cara, eu toco porque é alegria. Era a minha avó, como minha avó dançava, ela não saía. Eu tenho uma tia que depois ficou cuidando dela até quase antes dela falecer. Ela faleceu com 87 anos. Cara, eu acho que até uns 85 [anos], por aí, ela continuava dançando forró. E a minha tia um dia disse: “Mamãe, a senhora tem que largar de dançar, a senhora tem que se tocar que a senhora já é uma idosa!” Ela disse: “Minha filha, enquanto eu puder mexer os pés estou dançando forró.” Então assim, por quê? Minha avó era uma pessoa saudável, era uma pessoa alegre, era uma pessoa festiva, era uma pessoa que tinha, sabe, alegria em viver. Então a música pra mim é isso. Então assim, independentemente de ser famoso, de dar dinheiro, a viola pra mim é vida. Ela representa alegria, ela representa uma realização pessoal. É algo pra mim. Uma vez eu vi uma entrevista do Gilberto Gil, acho que num desses jornais, aí, Folha [de São Paulo], não sei. Quando eu li o texto, achei um pensamento arrogante do Gilberto Gil. Porque ele falou: “Olha, quando eu entro no palco, que eu sento, que eu pego meu violão, que eu vou cantar eu esqueço. Pra mim não tem mais ninguém na minha frente. Pra mim não interessa quem esteja na minha frente.” Ele falou assim: “Porque ali sou eu, ali estou tocando pra mim, pra satisfazer a minha alma, o meu espírito.” Aí quando eu li a matéria, a matéria dava a entender que ele não se interessava, que ele estava, tipo assim, se lixando pra você que está ali na frente. Só que não! Ele falou que não estava preocupado se tinha dez, se tinha vinte, se tinha trinta, um milhão (de pessoas). Ele estava ali tocando pra alimentar a alma dele. Então é isso que faz uma diferença tremenda. Então, eu gravei em 2008 o meu primeiro disco, chama-se “Poesia inviolada.” Fiz um disco com uma produção até bacana, legal. Mas não deu resultado, criei muita expectativa… e eu sou jornalista, trabalhando, cuidando de outras coisas, carreira de um deputado, eu não tinha tempo de me dedicar (à música). Aí fiquei bastante desanimado. Aí eu pensei: cara, já gravei dois discos, já peguei empréstimo (pra bancar disco), já quase acabou o casamento, que a minha mulher quase me largou quando eu fiz um empréstimo pra fazer o disco! Primeiro, quando eu comprei a viola, ela (a minha esposa) passou uma semana sem falar comigo. [Risos] Aí quando eu fui fazer o segundo disco, eu fui na Caixa, no meu banco, na Caixa Econômica, sem falar com ela, peguei quinze mil reais emprestado. Quando ela soube, meu Deus do céu! Quase me arranca o pescoço! Mas eu fiz o disco e me orgulho bastante que ficou muito bacana. Mas aí a gente espera: ah, vou vender muitos discos. Até hoje eu tenho muitos discos lá em casa. Mas tudo bem eu fiz. Na época ela brigou, falei: cara, você vai construindo, independentemente de qualquer coisa. Vai fazendo, vai fazendo independentemente se traz o resultado que a gente espera ou não, o importante é fazer. A gente muitas vezes fica: ah, vou fazer isso aqui, o que vou tirar disso? Cara, esquece, meu irmão, faça! Faça! Se for bem, o que vier bem, o que vier vai… aí eu fiquei meio desanimado. Aí eu comprei uma estruturazinha em casa, montei uma plaquinha de áudio, comecei a gravar umas coisinhas no computador, peguei um microfonezinho desses de gravar som bem simples. Aí comecei a fazer umas coisas de instrumental de viola. Quando foi no final de 2012 eu estava com uma porrada de músicas instrumentais prontas, assim, sem nenhuma pretensão. Sem nenhuma pretensão. Na verdade, porque eu não queria mais fazer esse tipo de coisa (investir em disco), porque eu falei: vou jogar dinheiro fora, não vou fazer mais isso. Só que eu queria mostrar pros meus amigos, principalmente do Tocantins e quem me conhecia de longa data, que eu agora era violeiro. Falei: “Cara, eu quero que vocês saibam que estou tocando viola.” Tocava MPB no barzinho, tocava lá [Cantarola] Vou te contar, meus olhos já não podem ver… O repertório era esse, era Gilberto Gil, entendeu? João Gilberto, Gonzaguinha, Fagner, Zé Ramalho…de repente o cara está tocando Tonico e Tinoco em três notas. Em três acordes! [Risos] O cara: “Que é isso, tu tá regredindo, cara?” Porque as pessoas pensam isso. Quando você fala de viola, o cara acha que você toca em três acordes só. “- Viola é pobre demais!” “- Que é isso, irmão?” Viola é uma riqueza extraordinária. Está mais do que provado. E aí eu estava com essas músicas. Chamei um amigo meu, produtor, mora aqui em Brasília… e também do Tocantins, eu falei: “Mas eu quero gravar um disco. Mas, cara, eu não quero mais fazer um disco gastando dinheiro. Eu quero só praticamente registrar, fazer um Cedezinho, entregar para os amigos aí.” Ele falou: “Mas você já tem as músicas?” Digo: “Já.” Ele trabalha com uns estúdios bons em Goiânia, umas parcerias… ele falou: “Cara, tu consegue gravar teu disco em dois dias? Num sábado e num domingo, final de semana?” Falei: “Acho que sim, porque já está tudo pronto. Chega lá, vou fazer as bases de violão, eu mesmo gravo contrabaixo e a gente faz. Aí depois você coloca uma percussãozinha lá, um padzinho [pad].” Assim, a gente fez. Eu contratei um estúdio bom em Goiânia, um dos melhores de Goiânia, que é o Cinemix. Ficamos na verdade um dia e meio gravando esse disco. Só eu e ele, de madrugada, rodamos de um dia pro outro, gravando tudo, só música instrumental. E ali, como eu te falei, sem pretensão nenhuma, foi só pra dizer: vou registrar e depois fazer umas copiazinhas e mandar pros amigos, ‘ouve aí!’. Gastei quinhentos reais nesse disco. E aí fiz o disco e ele (o produtor) fez a mixagem pra mim, mais algumas coisas eu gravei em casa, mais um baixo, um detalhezinho…fiz o disco, mixei, mandei masterizar. Fiz um lançamento em abril de 2013. Um belo dia, um amigo aqui de Brasília falou: “Cara, você ficou sabendo? Tem um concurso aí bacana, coloca teu disco lá, tal…” Ele nem me conhecia pessoalmente, que é o amigo Beto Moschkovich. Ele então me mandou o link, eu inscrevi o material e os caras me ligaram: “Você tem que estar em são Paulo dia 17 de junho pra receber o prêmio Rozini.” Um dos melhores CDs instrumentais, são três por categoria. Eu ganhei junto com uma galera do Paraná e o outro acho que um trio, não sei se de São Paulo, uma coisa assim. Falei: “Caramba!” Aí você vê o poder do instrumento, não é? Porque só tinha… eu coloquei acho que duas músicas cantadas. E o resto tudo instrumental. E a música que dá nome a esse disco chama-se “Viola pura viola”, que eu fiz em Pires do Rio (GO) na casa da minha sogra. E essa música eu gosto sempre de contar pras pessoas entenderem o por quê dessa música. Lá eu fico numa chácara na casa da minha sogra, distante um pouco da cidade. E eu, pra estudar viola, ia pra debaixo das sombras das árvores, na beira de um tanque de peixe. Lá tem um córrego, tem tudo, tem gado… e eu ficava lá final de semana inteiro estudando. E lá no alto, na cidade, passa a estrada de ferro. Então é aquele elemento, a estrada de ferro e todo dia ouvindo o que no Tocantins a gente chama de galinha d´água. Pra cá o pessoal chama de saracura. Que fica cantando na beira do brejo de manhã, tal, à tardinha, aquela coisa. Depois às vezes siriema, aquelas coisas. E aí eu ficava ouvindo aquela coisa. Rapaz, eu não sei por que foi fazendo, de repente fui brincando com a viola, virou uma música. A saracura é isso aqui ó [Demonstra na viola]. Ela tem um canto cruzado, uma canta num tom, outra canta no tom e fica dando esses cruzados [Demonstra na viola]. Isso é a primeira temática da música. A segunda é o vento que passava ali debaixo das árvores, alguma coisa lenta, uma coisa assim, ó [Demonstra na viola]. Aquele vento da tarde. De repente minha sogra chegava com uma tigelinha de pão de queijo, um cafezinho pra mim [Risos]. E lá no alto, na cabeça fica essa coisa, como que o artista, isso é interessante. De repente quando eu fui pensar na música depois de pronta eu fui identificar esses elementos. O trem [Dedilha na viola] [Risos]. Vou tocar ela pra vocês. Chama então “Viola pura viola”. É o disco de 2012, 2013 e ganhou o prêmio Rozini.
[Toca instrumental na viola a música “Viola pura viola”, de sua autoria]
Claudivan: Essa é “Viola pura viola.”
Domingos: Linda, linda. Depois desse prêmio teve algum movimento na sua carreira enquanto violeiro, como que foi?
Claudivan: Olha, depois desse prêmio isso me incentivou bastante, eu passei a ver aquele desânimo que eu tinha tido em 2010, 2011, por aí, depois do disco “Poesia inviolada.” Porque eu tenho uma característica muito diferente de muitos artistas até, porque tem muita gente, muitos amigos, inclusive de música que eu conheço, que fazem a coisa meio descompromissada, sabe? Então eu sou uma pessoa que em todas as coisas que eu faço – pode ser a coisa mais simples do mundo – eu coloco a minha alma naquilo, entendeu? E isso é bom por um lado, que você busca a perfeição, você busca dar o melhor de si. Mas, muitas vezes é meio ruim, porque você se desgasta emocionalmente, não é? Porque muitas vezes você não tem o retorno que você gostaria de ter, financeiro, de reconhecimento, que, claro, não tem um artista nesse mundo que não queira ser reconhecido e receber por isso. E a música no Brasil, a cultura, é uma briga de leão. Mas mudou muito que eu pensei, passou a povoar minha cabeça a ideia de que é possível. Claro que é possível. Por que não é possível? Você fazer uma carreira, você se dedicar à viola, você fazer um trabalho musical, você ser remunerado por isso e reconhecido por isso. E é engraçado que eu sou jornalista, trabalho na Câmara dos Deputados já tem dezesseis anos fazendo assessoria parlamentar. E no final de 2014 aconteceu que eu conheci o Sérgio Reis. Então foi outra coisa também muito doida. Porque eu sou assessor parlamentar e a gente trabalha, você é comissionado, você não é, não sou concursado da Câmara. Então, a cada final de legislatura você tem que arrumar um novo parlamentar, caçar um novo emprego. Todo mundo precisa. Agora vou trabalhar com um deputado do Paraná… Eu trabalhava com um deputado do Paraná. Eu trabalhei com um deputado do Tocantins. Assessorei um ex-Senador de Rondônia que virou deputado e até faleceu já. Aí você fica nessa ali dez, vinte, trinta anos. Aí, de repente, o deputado pra quem eu trabalhava não foi reeleito. É da região de Cascavel. E aí você já começa… E agora? Vou pra onde? Aí um belo dia, lendo uma reportagem na internet, vi: o Sérgio Reis foi eleito. Falei: caramba! Aí eu comentei com uma colega de trabalho: “Cara, já imaginou se eu pudesse trabalhar com o Sérgio Reis, hein?” Ela: “Claro, você pode, Claudivan, você é um cara super qualificado pra isso. Vai atrás!” E aí eu fui atrás da informação, falei: “Cara, quem é? Qual partido?” Aí eu fui, não me disseram nada, sabe aquela coisa de gente que fica cercando, fechando as informações, acho que as pessoas ficam meio com ciúme, você chegar até lá. E aí eu consegui uma informação: “Olha, dia 25 de novembro o Sérgio Reis vai estar aqui às dezoito horas pra uma reunião da bancada do partido lá assim, na sala tal.” Digo: ótimo, o que eu precisava saber já sei [Risos]. (Me) Preparei, botei o melhor terno, preparei um baita de um currículo, organizei tudo, botei a autoestima lá nas nuvens e corri. E no dia e na hora eu estava lá e fui até ele, me apresentei e falei diretamente pra ele: “Olha, estou aqui, sou fulano de tal, assim, assim jornalista, trabalho…” Fiz um resumo da minha referência e fui diretamente ao ponto. Vim aqui porque eu quero trabalhar com o senhor. Aí ele ficou assim, a princípio a esposa, depois ele. E aí até ele não disse muita coisa. E aí eu falei pra esposa dele que eu também era violeiro. Aí ela disse: “Olha, ele é violeiro.” Aí quando eu falei, aí ele olhou pra mim, falou: ”Ah, você é violeiro?” Aí eu digo: “É, também.” Porque eu não estava lá porque eu sou violeiro, eu estava lá porque eu sou um profissional de comunicação. Então eu não queria que eu fosse trabalhar só porque o cara é violeiro. Aí quando eu falei assim, eu falei: “É, também deputado.” Ele falou assim: “É, melhor dois violeiros do que um só!” [Risos]. E aí a partir dali fui contratado de imediato. E fui trabalhar. Cara, foi uma parceria muito boa. Foram quatro anos assim, de amizade. Um espírito generoso. Sérgio Reis é uma figura de outro mundo, como a gente pode dizer! Que não era do mundo político. Ele estava lá de passagem. Mas aí a gente passou a tocar direto. Essa viola, por exemplo, ele disse: “Olha, violeiro, deixa essa viola aqui no gabinete!” Então a viola estava lá todo dia. Chegava o prefeito, a gente tocava moda. E foi assim. Tocamos pra eventos, em reuniões do presidente da Câmara. Tocamos até pro Presidente da República. Então? Tocar pro Presidente da República é uma baita honra, não é? Aí ele me levou pro meio musical. Eu fui participar do Festival da Música, lá em Canela, Rio Grande do Sul. Festa Nacional da Música, aliás. Aí conheci essa turma toda, conheci muita gente do meio: Ivan Lins, Fafá de Belém, Guilherme Arantes, Sá e Guarabira. Rapaz, muita gente. E aí você passa a se ver de uma outra forma. Porque nós, artistas, temos um problema muito sério às vezes que acho que é por conta da questão cultural brasileira. A gente é retraído. As pessoas de fora não botam fé no nosso trabalho, não acreditam que aquilo é possível, é viável, é algo interessante, diferente, bonito. E você meio que incorpora aquilo. “Não, tocar é só pra brincar mesmo. É só um hobby, isso aqui…” Quando eu estava tocando viola, começando a tocar viola, em 2009, uma vez eu fiz um contato com o Braz da Viola, que é maravilhoso, estudei muito material dele, um mestre, lá de São Paulo, maestro fantástico. E um baita de um luthier. Aí uma vez eu peguei o e-mail dele, fiz uma gravaçãozinha de viola instrumental e mandei. Falei assim: olha professor, isso aqui eu gravei em casa, só brincadeira, só eu aqui brincando na viola. E ele me respondeu: olha caboclo, se você está fazendo isso brincando, imagina no dia em que você levar a sério [Risos]! Porque a gente não tem noção às vezes, você faz uma coisa que você não tem noção. E aí, quando eu fiz esse trabalho com o Sérgio Reis, que ele me colocou pra tocar na frente dos caras e tal… E quando eu cheguei lá nessa festa no Rio Grande do Sul era só artista pra todo lado. Aí de repente tinha um standzinho com um som, eu falei: “Olha, estou com a viola no quarto, viola caipira. “- Então vem cá.” Um expositor de instrumentos, de violões, tal. “- Não, o som está pronto aqui.” Estava junto com o SEBRAE. “- Pode tocar aí!” Eu cheguei, peguei o instrumento, comecei a tocar. Cara, daqui a pouco começou a fechar (de gente) o hall do hotel todinho. Aí vieram um monte de gente. Aí vários, Robson Miguel, que é um baita de um professor, considerado um dos dez melhores violonistas do mundo. Daqui a pouco ele estava na minha frente. Eu tocando na frente do Robson Miguel, um cara que eu via os vídeos dele. E ele lá! [Risos]. Falei: “Caramba!” Aí de repente passa o Kiko, do KLB, que também estava lá, um baita artista, fez um baita sucesso. Eu estava tocando “Tristeza do Jeca”. E ele parou na minha frente e falou: “Posso cantar com você?” Falei: “Pô, cara, que honra você vir cantar comigo!” Aí ele veio cantar comigo. Então eu falei: “Cara, obrigado, você sabe que pra mim é uma honra, a gente que é um artista pequeno.” Olha só como que é a nossa mentalidade! Sou um artista pequeno, iniciando, tal. Ele falou: “Ó, pera aí…” O Kiko, me deu uma aula. Um cara de uma humildade fantástica. Ele falou: “Olha, não existe isso, deixa eu te falar aqui, não existe isso. Existem artistas. Não é porque um é famoso, outro não é famoso, um é rico outro é pobre. Existem artistas. Todos são iguais. Então não existe artista maior e artista menor.” Cara, pra mim foi uma aula! E aí isso assim, melhorou muito mais a minha autoestima, e eu vim fazendo, trabalhando…, depois gravei um disco em 2015 pra 2016. Sérgio Reis participou, gravou no meu estúdio. Eu montei um estúdio, ele foi gravar comigo. E aí agora eu estou com um disco novo. Um outro trabalho. Continuo investindo, continuo colocando toda a minha inspiração em favor da viola. Com muitos projetos. Muitos projetos inclusive pra show, pra teatro, pra coisas envolvendo a viola. Porque, como eu te falei, a viola é muito mais do que um instrumento. Eu toco viola muito mais por questão de comprometimento com a cultura brasileira do que por resultado financeiro. Se fosse por resultado financeiro eu não estaria aqui, eu ia fazer um mestrado de comunicação, ia fazer um baita de um concurso no Senado, não sei aonde pra ganhar trinta mil e ficar tranquilo lá. Mas não! Eu tenho um compromisso com isso aqui, porque a viola é algo muito importante, pra mim é muito importante. (Continua…)