Wellington Assis

“Um conselho para aprender viola? Paciência, tranquilidade. Existe um ditado muito legal no meio caipira: ‘é o tempo que cura o queijo’. Daqui a pouco vão inventar uma máquina que já coalha o leite, prensa e cura na hora. (…) Mas até então, é o tempo que vai curar o queijo, não tem jeito.”

Entrevista com o músico e professor Wellington Assis, morador de Taguatinga-DF.

Gravação realizada no Orbis Estúdio, em Vicente Pires-DF, no dia 13 de dezembro de 2019.
Entrevistadores: Domingos de Salvi, Sara de Melo, Daniel Choma e Tati Costa.
Transcrição: Tati Costa. Fotos e editoração: Daniel Choma.

Wellington Assis nasceu em Campina Verde-MG em 12 de abril de 1983.

[Toca na viola caipira a música “Casamento na roça”, de Marcos Mesquita]

Wellington: Sou natural de Campina Verde, Minas Gerais, ali pertinho de Uberlândia. Fui criado na roça desde menino. Meu pai era carreiro, mexia com carro de boi. E meu avô, pai da minha mãe, Sebastião Maria, que hoje já é falecido, foi um grande músico lá na região. Tocava violino, tocava violão e minha família toda tem sobrenome de Maria. Então é Sebastião Maria, Lázaro Maria. Então a família muito tradicional de música, o Luiz Maria, que é tio Luiz, um dos grandes músicos lá de Minas, hoje está morando no Pará. Toca violão, é canhoto. Então fui criado no meio rural. Na roça, tirando leite, capinando, desbrotando [Risos] Mas não vou lembrar muito disso não! [Risos] Mas aí graças a Deus vim pra Brasília em 2002. Teve um lançamento de CD de dois tios meus aqui, tio Luiz Maria no violão e tio Gerônimo Maria no acordeom, numa pé-de-bode na verdade. Foi um CD na verdade e teve participação do Roberto Corrêa, produção Nelson de Oliveira, que é um primo meu que mora aqui. A história nasceu aí que eu vim assistir o lançamento desse CD e aí trouxe uma violinha Tonante que eu tinha. Nós passamos o dia tocando, brincando junto e tal, e eu tocava cinco músicas só. E aí o meu tio Gerônimo Maria gostou muito da viola, porque na época não tinha muita gente tocando viola, tal. Eu menino, com dezenove anos tocando uma viola. Aí pegou e falou: “Não, você vai levar a viola pro show, leva a viola pro show.” Falei: “Tio, mas eu só toco cinco músicas.” “- Não, mas você leva a viola, leva a viola.” “Tá bom!” Aí meu tio Luiz Maria falou assim: “Na hora que a gente subir no palco, tocar e acabar as cinco músicas eu vou desligar o cabo da sua viola e falar que a gente tem que viajar, que tem que ir embora, voltar, porque não vai falar que você toca, pro caboclo fica feio [Risos] Um artista com cinco músicas! [Risos] Falei: “Ó tio Luiz, tá combinado então”. Aí chegou lá o povo pediu, eu peguei a viola, liguei, aí começamos a tocar, foi aquela coisa linda. Foi aqui num restaurante que chamava na época Chão nativo, do Celso, meu grande amigo, vou deixar um abraço pro Celso, todos os amigos, família. E aí foi maravilhoso, toquei cinco músicas e o povo gostou, toquei “Chalana” o povo começou a dançar [Risos] Pensei meu Deus e agora, acabou o repertório. Aí meu tio: pá. Tirou o cabo: “Não nós temos que ir embora, o menino é novo, tem que dormir cedo!” [Risos] vou deixar um beijo aqui pro tio Luiz Maria. Então foi isso o começo da minha vida.

Domingos: Legal!

Wellington: Bom demais.

Domingos: Voltando um pouquinho ainda lá no sítio, conta um pouco mais pra gente, pegava bicho de pé, brincava de quê?

Wellington: Ah, era bom demais moço, bicho de pé dava aquela coceirinha gostosa. A gente deixava ele crescer, porque você não tirava ele pequenininho, deixava ele crescer porque a gente queria depois ver o buraquinho, é uma bolinha! A gente tirava devagarzinho, com agulha depois e tirava ele, ficava aquela bolinha e a gente ficava ostentando. A nossa ostentação uma época era ostentar a bolinha, o buraquinho do bicho de pé! [Risos] E aí era bom, a gente levantava de madrugada pra tirar leite, quatro horas da manhã. Rapaz, levantava estava chovendo e aí você sair de uma cama quentinha, debaixo da coberta pra entrar numa chuva não é muito bom não. Mas é a lida do povo da roça, é assim mesmo. Então a gente levantava de madrugada, tirava leite, aí ia capinar, ia pras roça e tal. E aí sábado e domingo o hobby do meu pai era pegar, cangar os bois e a gente ficar o dia todo carreando. Aí ia buscar lenha, ia levar um trem no vizinho e ele ficava inventando serviço pra nós. Mas meu pai já faleceu. Na verdade meu pai faleceu em [19]98. João Batista era o nome do meu pai, conhecido como João Belizar. E minha mãe, graças a Deus ainda é viva, está lá em Minas, Maria de Assis. Mora numa cidade chamada São Francisco. E a vida foi assim, foi crescendo, a gente estudava na cidade, levantava de madrugada, tirava leite, depois quando era mais ou menos umas seis horas a gente já tinha que estar prontinho, uma perua, uma kombi passava, pegava a gente, levava pra escola. E aí o tempo foi passando, a gente foi crescendo e tive essa infância bem caipira, bem na roça mesmo. Graças a Deus minha formação bem interiorana mesmo. O povo fala: “Você já tem tanto tempo aqui em Brasília e tem esse sotaque bem forte.” Mas é porque a minha vida foi bem na roça mesmo, então acho que ficou bem grudado em mim mesmo! [Risos]

Domingos: Lá você via pessoas tocando viola caipira, já começou lá?

Wellington: É, então, a questão da viola, meu avô tocava violino e violão. E meu tio Luiz Maria violão também. Mas depois tive um tio chamado Ataliba que tocava violão e aí eu tive esse primeiro contato ainda bem menino, acho que uns oito anos. Eu lembro a primeira cena que tenho na minha mente de alguém tocando e cantando foi o tio Taliba tocando as músicas de Tonico e Tinoco, ele gostava muito. Então a primeira cena que eu tenho na minha vida de alguém tocando e cantando era o tio Ataliba. A gente chamava de Taliba. E aí depois eu conheci um violeiro apelidado de Alemão, lá de Campina Verde, um grande músico e ele que me passou algumas, os primeiros toques de viola, me deu essas manhas e tal. O Alemão, apelido de Alemão. Ele era músico de banda, tocava violão, guitarra e viola. Aí depois conheci uma dupla chamada Otacílio e Nelico, na região do Tijucal, lá próximo a Campina Verde, entre Campina Verde e São Francisco de Sales. Essa dupla me motivou muito porque aí já era o verdadeiro som da viola, as modas de Tião Carreiro e Pardinho e já no som da viola mesmo. Então a região muito cultural da religião católica, então tinha uma novena que acontecia lá na região. Tinha uma imagem que eles levavam de casa em casa, todo aquele ritual que tem. Todo dia rezava, fazia uma reza na casa de um vizinho. E aí eu ficava ligado no som da viola. Acabava o terço e aí tinha uns pão de queijo, uma garrafa de café e tal, um leitinho com toddy. E a gente ia escutar as modas de viola, sabe? Aí eles pegavam na viola e ia até tarde, tocando as viola, cantando e tal. E aí eu lembro que uma vez eu já comecei a me interessar pelo som da viola. Aí teve uma vez que eu pedi a ele, falei:  “Deixa eu segurar a viola do senhor?” Falei pro Tacilinho, Otacílio. Aí ele: “Tudo bem.” Era uma violinha Xadrez, pequenininha, sonzinho cristalino, aquela coisa. E aí ele pegou, me entregou a viola, aí eu: [Dedilha a viola] Passei o dedo, assim, falei: “Rapaz, que som bonito, que coisa legal!” Aí ele fazia assim, eles cantavam. Aí enquanto rezava aquele trecho de reza ele me entregava a viola, eu corria lá pra fora, sentava num banquinho de madeira que tinha. Nas casas geralmente tem um banquinho lá fora. Eu ficava lá brincando com a viola. E eu tocando a viola e contando, opa, deu oito, opa tenho que voltar lá. Tinha o tempo que eu tinha que voltar entregar a viola pra ele [Risos] Aí voltava, entregava a viola aí ele cantava nos refrão lá e tal. Terminava ele me entregava a viola de novo. Aí eu fui brincando, fui gostando daquilo, fui pegando o jeito, tal. Aí foi quando eu fui pra cidade, aí já mudei pra cidade. Falei: “Não, eu vou procurar um professor aqui.” Aí conheci algumas pessoas importantes lá na cidade de Campina Verde e já alguns falecidos. Mas na cidade mesmo tinha três ou quatro violeiros só, sabe? Mas eu encontrava um e tal. Encontrava outro e tal. E aí o Alemão foi o cara que me passou bastante toque de viola, me ensinou as primeiras músicas. “Chalana” instrumental. Inclusive esse repertório de cinco músicas eu aprendi foi com ele, entendeu? Aí eu fiz aula de violão, com uma professora chamada Betinha Chaves que também é lá de Campina Verde. Que é uma família muito tradicional de música, o pessoal dos Chaves lá.  Têm uma escola de música lá. Então fiz aula de violão, mas aí eu falava pra ela: “Não, mas não é esse som que estou querendo, parece que o som está diferente.” Aí um dia ela pegou e falou assim: “Menino, eu descobri o que você gosta.” Falei: “O quê?” “- Não, espera aí.” Aí pegou um sonzinho, colocou lá, ligou um CD do Almir Sater. Aí começou a passar aquele som diferente. Falei: “Ah, esse som que eu gosto.” Ela falou: “Isso aqui é viola caipira.” Aí ela me apresentou o Alemão, entendeu? Começou aí. Ela falou: “Não, o seu negócio não é violão não, o seu negócio é viola caipira.” Foi aí que eu tive contato com o Alemão que me ensinou esses toques de viola. [Risos]

Domingos: Legal! A importância dos professores na vida da gente…

Wellington: Nossa! Aí tiveram outras pessoas, que às vezes não passaram nada, porque já estavam muito de idade. Mas falavam, contavam os causos. O seu Ataíde que era um dos violeiros de Campina Verde também. Ele tinha outros irmãos que eram violeiros também. Ele me contava, eu gostava muito de ir lá na casa dele conversar com ele, ele já estava bem de idade. Ele tinha quebrado o braço, não conseguia afinar a viola porque ele não tinha força pra apertar a tarraxa. Aí ele falava pra mim assim: “Ó, então você vai apertando meu filho, eu vou batendo.” Ele batia com os dedinhos dele lá bem devagarzinho nas cordas. Aí eu ia apertando: “Não, não está bom, tá bom, já afinou, está bom, para aí.” Então seu Ataíde. Um grande violeiro. Deixar um beijo lá pra família dele também. E aí eles eram foliões e cantavam. Ele era mestre de Folia. E ele me falou uma vez que toda vez que o Tião Carreiro ia cantar em Campina Verde o Tião Carreiro gostava de ir pra casa dele. Então aí o Tião Carreiro fazia um show no sábado e o domingo todo era festa, violada, os violeiros da região toda e o Tião Carreiro ficava na casa dele. Ele tinha muita foto, muito material legal lá, sabe? E aí eu fui aprendendo com esse pessoal. Então é graças a esses violeiros de Campina Verde que me deram todo esse apoio… Aí com o passar do tempo eu descobri que havia um violeiro de Campina Verde que era muito famoso, muito conhecido no mundo todo e tal. E que por sinal a gente era vizinho de fazenda! Que era o Roberto Corrêa, o grande Roberto Corrêa. E o pai dele, já falecido hoje também, seu Avaí Corrêa tinha uma fazenda e era muito amigo do meu pai. Então meu pai sempre trabalhava lá com seu Avaí, fazia serviço de trator, essas coisas. Mas eu não imaginava quem era o Roberto Corrêa. E aí um dia alguém me falou: “Olha, tem um cara de Campina Verde que é um dos maiores violeiros.” Aí eu fui pesquisar, comecei a descobrir, aí me mostraram, pessoas que tinham CD, material dele. E aí eu consegui comprar o livro do Roberto Corrêa. Aí falei: “Opa, agora eu tenho um material!” Porque a viola é muito de ouvido. Essa questão põe o dedo aqui, aperta aqui, faz aqui, toca aqui, bate assim. Sempre foi muito assim. E o Roberto criou aquele material “A arte de pontear viola.” Eu consegui comprar o livro, adquiri esse livro e aí lembro que era uma dificuldade financeira, moço, grande demais da conta, sabe? Mas muito. Eu lembro que eu paguei na época, parece que era quarenta e dois reais no livro. E eu ia lá na casa onde moravam os familiares do Roberto, levava dez reais, deixava lá. “- Ó, depois eu venho aqui vou trazendo mais, vou trazendo mais.” Aí sei que um dia eu juntei o dinheiro todo e aí a pessoa que estava me atendendo lá falou: Edson, seu Edson, tio do Roberto Corrêa. Falou: “Ele vai mandar o livro pra você.” “- Beleza!” Mas o Roberto não me conhecia. Aí ele mandou o livro, peguei o livro, depois comecei a estudar e tudo. Aí eu falei com esse tio dele: “Quando o Roberto voltar aqui, vier em Campina Verde eu queria conhecer ele pessoalmente.” Aí um belo dia alguém me ligou: “Ó, o Roberto está aqui em Campina Verde, você falou que queria ver ele, ele está lá na fazenda do pai dele.” Aí falei: “Rapaz, a oportunidade de conhecer o cara!” [Risos] Aí eu chamei um primo meu, nós fomos lá. Ele pegou uma caminhonete, lá, uma C10, povo da cidade nem sabe o que é uma C10. Pegou a C10 nós fomos lá na fazenda do seu Avaí Corrêa. Aí fomos muito bem recebidos, o Roberto estava lá, pegou a violinha Tonante que eu tinha, deu uma tocada nela e tal. Aí me passou, escreveu pra mim o “Menino da porteira” em partitura. “- Ó, você vai estudar isso aqui, treina isso aqui.” Me passou umas manhazinhas lá. Aí rapaz aquilo pra mim foi tudo. Já voltei pra casa. Voltei outro menino pra casa. Encontrar o Roberto Corrêa! Cara famoso, cara conhecido no mundo todo, com o histórico que tem… Aí aquilo deu um ânimo pra mim muito grande, sabe, é muito bom isso. E aí eu falei: “Rapaz, estou no caminho, vou continuar. Estou no caminho.” Aí aquilo, rapaz, eu tocava essa viola vinte e quatro horas depois, não parava de jeito nenhum. E aí o tempo foi passando, fui estudando, fui aprendendo, comecei a ver as lições do livro, os acordes, formação de acorde, tal. Fui tirando as músicas, tinha um CD também pra você acompanhar e tal. E aí depois teve esse lançamento do CD, eu vim pra Brasília. E vindo pra Brasília aí me convidaram pra morar em Brasília depois. Depois desse lançamento do disco dos meus tios. Aí foi quando eu conheci o grande violeiro Marcos Mesquita. Foi o cara que abriu as portas da Escola de Música [de Brasília] pra mim. O Marcos Mesquita foi um pai pra mim aqui em Brasília. Um cara muito bacana. Um cara muito generoso, o coração muito grande. Um grande músico, um grande compositor. Me tornei amigo do Marcos Mesquita, graças a Deus, da Irene, que é a esposa dele, dos filhos, do Vitor. E aí a gente ficou muito amigo, graças a Deus e hoje a gente até brinca que eu sou o filho mais velho do Marcos Mesquita! [Risos] Deixar um beijo aqui pra família do Marcos Mesquita e as filhas do Marcos Mesquita também. Hoje uma das músicas que eu mais gosto de tocar é o “Casamento na roça” do Marcos Mesquita. É uma música que toca muito no meu coração porque me lembra tudo isso. Todo esse apoio que ele me deu aqui em Brasília que foi fundamental pra mim. Cheguei na época novo, garoto aqui, dezenove anos e igual eu falei, a situação econômica não estava legal, não era muito boa. E eu lembro que a gente saía muito. Eu fazia aula de teoria na Escola de Música [de Brasília] segunda e quarta e aí sexta-feira era aula de viola. Aí toda sexta ele me chamava pra eu ir pra casa dele almoçar. Aí eu: opa, filar uma bóia! [Risos] Aí ele falava: “E aí cara, gosta de galinha caipira?” Eu falei: “Ah, você esta doido, perguntar isso prum mineiro da roça?” [Risos] A gente ia lá pra casa do Marcos Mesquita, almoçava, a Irene fazia aquela galinha caipira lá. A gente ficava lá e eu colado, meu amigo, colado no Marcos Mesquita, sabe? Colado vendo o jeito dele tocar, o jeito dele puxar as cordas, aquela influência toda, que ele vai desde o caipira ao rock e eu sempre assistindo isso. O Marcos Mesquita foi um cara fundamental na minha vida, abriu as portas aqui em Brasília, me apresentou pra muita gente. Me ajudava a fazer meus primeiros projetos, ele fazia pra mim, digitava no computador, fazia tudo, me ajudava, me dava ideia. Então um cara assim que não tem como nem eu retribuir tudo que ele fez pra mim, sabe? Um cara que eu falo, eu tenho ele como um pai hoje pra mim mesmo. É um cara que me ajudou e era engraçado que eu lembro direitinho, a gente andando, saía da Escola de Música que fica ali na 602. Aí ele me dava uma carona até na rodoviária pra pegar o ônibus. Aí ele conversava comigo, tal, aí na hora de descer lá na rodoviária ele sempre falava: “E aí, cara, como que você está de grana aí?” Você vê, um professor de música preocupado com isso. Então o cara tem um carinho, um coração. Ele falava: “E aí cara, como que você está de grana?” Aí eu sem graça: “Ah marcos, está indo, cara.” Aí ele insistia: “Não cara, mas e aí, tem grana?” Falei: “Ah, tem um pouquinho…” [Risos] Aí ele abria a carteira. “- Não, não. Pega aí. Pega cinquenta reais aí, fica pra você, vou te ajudar aí.” Então assim, um cara que, nossa, fez coisa pra mim que me emociona, sabe? Então de todas as pessoas que me ajudaram muito aqui em Brasília o Marcos Mesquita foi um cara diferencial na minha vida e tenho certeza que Deus colocou no meu caminho pra me abençoar e então eu sou muito grato a tudo que ele fez, sabe? Tudo, as dicas e quantas músicas ele me ensinava, Às vezes a gente ia, ele: “Ah vamos ali que eu vou resolver uma empresa numa empresa aí.” Chegava lá, demorava: “Pega a viola aí, vou te passar a introdução da música tal aqui.” Aí passava a introdução. “- Ah e essa música aqui, quer aprender?” “- Quero!” “- Então pega aí.” Então todos os lugares, eu tinha aula vinte e quatro horas! [Risos] Valeu Marcos, viu? E estamos aí dando sequência ao trabalho maravilhoso que você me passou e me ensinou. Não só na música, mas na questão pessoal também e como ser humano. E todos que me ajudaram aqui em Brasília, Deus tocou no coração de muita gente pra me ajudar. Porque é uma vida totalmente diferente, sabe? Você chegar do interior, de uma cidadezinha de quinze, vinte mil habitantes onde o estilo de vida é todo diferente. Tudo você resolve a pé, tudo você faz por ali mesmo. Pega a bicicleta, vai no banco, deixa lá, você pode entrar e pode voltar. Então você dorme com a janela aberta, a porta do quarto, da casa aberta. Aí você chega numa cidade grande dessa aqui, tudo é diferente. Então pra mim foi muito sofrido no começo. E aí a gente foi aprendendo. Essas pessoas foram me ensinando muitas coisas. Além do toque de viola me ensinaram também como sobreviver nessa cidade. A gente conversava muito, a Irene me dava muito conselho também, sabe? “- Ó Wellington, cuidado, cuidado.” Eu bem novo, matuto da roça. Mas graças a Deus consegui vencer e ficou essa história bonita aí. Graças a Deus! [Risos] Bom demais!

 

Domingos: Que lindo cara! Quer tocar “Casamento na roça” pra gente?

Wellington: Opa! [Risos]

[Toca na viola caipira “Casamento na roça”, de Marcos Mesquita]

Wellington: Estou meio emocionado aqui! [Risos] Mas bom demais, graças a Deus que tem projetos assim como o seu pra poder registrar isso. E pra mim é uma honra estar participando, agradeço muito o convite, fiquei muito feliz. Aí a vida foi acontecendo, estudei na Escola de Música [de Brasília] com o Marco Mesquita quatro anos. Fiz teoria musical, fiz viola caipira. E aí comecei a dar aula em algumas escolas já pra poder sobreviver. Um dia ele falou: “Ó cara, você já pode começar a ter uns alunos, você já está tocando bem.” E outra coisa legal, o Marcos me colocava em todos os eventos dele. Eu lembro que entrei na Escola de Música em junho de 2009 e aí na primeira audição que teve ele já me chamou, falou: “Ó, você vai tocar uma música aí.” Falei: “Mas eu só toco cinco.” Falou: “Não, você vai tocar, você vai apresentar. Você vai tocar ´Luar do sertão´.” aí na época eu apresentei a música “Luar do Sertão” depois todo show que tinha. Então ele trabalhou muito esse lado. Ele me ajudou em todos os lados, a questão financeira, como aluno me ensinou, me passou as técnicas e também me colocava no palco porque você tem que ter experiência. Não adianta você saber tocar muito, mas não ter experiência com o público, com o palco. Então ele me deu também essa grande oportunidade. Os shows dele ele sempre me colocava em tudo, me chamava. Em todo evento eu estava prestigiando ele e pra mim era aula o tempo todo. Vendo a postura dele no palco, os comentários e como que ele lidava com o público. Então eu ficava ligado nisso pra aprender mesmo a parte de sala de aula e palco também. Foi muito importante pra mim, sabe?

Eu já toquei em lugares importantes, graças a Deus e a gente vai sempre lembrando daqueles ensinamentos na sala de aula e nos palcos. Foi riquíssimo pra mim essas oportunidades que ele me deu, sabe? E depois dei aula nessas escolas aqui em Brasília e aí criei um material também, um método de viola caipira e formação de acordes, escala, técnica de mão direita, esquerda, escala duetada, improviso, tal… Depois, graças a Deus consegui abrir minha escola de música, que fica aqui em Taguatinga, no centro de Taguatinga, Escola de Música Betesda. A escola já tem doze anos agora e tem uma equipe lá maravilhosa. Hoje tem professor de acordeom, tem guitarra, tem outros de viola caipira, tem canto, tem violino, tem cavaquinho, violões. Então graças a Deus estou com uma equipe muito boa. Os professores, graças a Deus uma turma excelente, dedicados, todos músicos profissionais. Cada um tem seu trabalho também e a gente vai trabalhando e graças a Deus conhecendo novos amigos. Expandindo essa arte de tocar viola e outros instrumentos agora também. (Continua…)