Juca Violeiro e Wellington Abreu

“Às vezes, você vai dormir com a viola, vai viajar com a viola, vai ficar com ela mais tempo do que ficaria com qualquer outra coisa. E a partir do momento que você entender isso, que ela é parte de você, aí você passa a ser um violeiro. Até lá, não.”

Entrevista com o músico Juca Violeiro e com a participação especial do ator e músico Wellington Abreu, moradores de Águas Claras-DF.

Gravação realizada no Orbis Estúdio, em Vicente Pires-DF, no dia 12 de dezembro de 2019.
Entrevistadores: Domingos de Salvi, Sara de Melo, Daniel Choma e Tati Costa.
Transcrição: Tati Costa. Fotos e editoração: Daniel Choma.

Juca nasceu em Ipameri-GO, em 18/02/1963, e Wellington em Ceilândia-DF em 01/02/1975.

 

Domingos: Juca, você é natural de onde?

Juca: Sou de Ipameri, interior de Goiás. Eu brinco muito que nem é Ipameri, era uma região lá que eles chamam de posto 127. Então eu e meus irmãos, nós todos nascemos na roça mesmo. Era um posto da estrada de ferro, no interiorzão lá. A gente morou lá, depois saiu, foi pra Ipameri pra poder estudar e daí depois a gente foi pro mundo. Pra São Paulo e por outros caminhos, foi assim.

Domingos: E o trem funcionava nessa época?

Juca: Funcionava, tanto é que meu pai tinha uma venda nesse posto 127 que o trem passava. Ele saía de Goiânia, passava no posto 127, abastecia. O pessoal descia, comia ali na venda que meu pai tinha. Dali ele ia embora pra São Paulo. Então ficou até eles desativarem, depois, nos anos [19]60 eles foram desativando aquilo e a gente saiu da daquela região. Ficamos sem colocação lá. Aí cada um foi pra um canto. Eu era menino, claro, mas meus irmãos que são mais velhos já estavam precisando procurar o caminho deles. Aí foi que a gente saiu.

Domingos: Você chegou a viajar de trem?

Juca: Ah, muito, muito, pra todo lado a gente só ia de trem. Ia pra Goiânia de trem, ia pra São Paulo de trem, tudo era trem. Minha vida era o trem. Muito bom, era muito gostoso! E poder tocar no trem também eu acho que é uma experiência que foi fantástica. A gente levava os instrumentos, ia tocando. A gente não tinha dinheiro então a gente ia, comprava a passagem de segunda, sentava naquele banco de madeira e ia tocando o tempo inteiro. Era assim!

Domingos: E como era a vida nessa cidade?

Juca: Ipameri era uma cidade, ainda é uma cidade muito pequena, fica próxima de Caldas Novas. Então Caldas Novas praticamente apagou a cidade de Ipameri. Era uma cidade que no início dos anos [19]40, 50 era a grande cidade porque o exército estava lá. Então parte do exército que foi lutar na Segunda Guerra Mundial era de lá, de Ipameri. Então a cidade corria, muito dinheiro, tinha vários bancos, lojas. E depois nos anos 70 esse quartel saiu de lá, foi pra Jataí. E a cidade encolheu. Colégios fecharam, tudo isso. E outras cidades foram crescendo e lá não. Mas foi uma infância muito boa. Crescer na roça é muito bom. Crescer no interior é muito bom. Porque não tem perigo, não tem nada. Então é muito gostoso. E crescer na roça foi a experiência que talvez me levou pra viola. Porque era uma roça que não tinha luz elétrica, não tinha nada. Então se você quisesse ouvir música você tinha que tocar, você tinha que produzir. Então minha família toda de músicos. Então todo mundo tocando, brincando e eu entrei nessa. Foi assim.

Domingos: Tinha algum violeiro na família?

Juca: Tinha vários. O meu avô mesmo, pai da minha mãe, era violeiro. Era ele que animava as festas lá na cidade, que eles chamavam os bailes da cidade. E próximo dali, em Goiandira, que era todo mundo mais ou menos da mesma família. O pessoal, todo mundo casava uns com os outros, não tinha muita família diferente. Tinha o Adolfo Mariano que era meu tio. Adolfo Mariano foi o maior violeiro que Goiás já teve. Tanto é que ele sempre morou em Goiandira, nunca quis sair da região ali. Goiandira é vizinha de Ipameri. E na inauguração de Goiânia, nos anos [19]40 o interventor, que era Pedro Ludovico Teixeira, mandou chamar ele, buscar ele. Mandou um carro pra buscar ele em Goiandira pra ele fazer a inauguração de Goiânia. Então era a pessoa mais importante que tinha ali e era violeiro. Hoje tem vários trabalhos publicados sobre ele, Maria Augusta Calado, uma grande pesquisadora de Goiás, escreveu um livro sobre ele. Tem vários outros também que escreveram livros. Infelizmente num determinado período várias pessoas foram atrás dessa memória porque começou a surgir livros e tal. E aí descobriram que haviam alguns discos gravados dele tocando no Rio de Janeiro. Só que aí, inclusive eu fui pesquisar sobre isso, quando chegou lá não existia mais porque deu uma chuva, goteira e todas as matrizes foram embora. Então não tem nenhum registro sonoro dele. É uma pena. Mas é um grande violeiro, Adolfo Mariano.

Domingos: Você chegou a vê-lo tocar?

Juca: Só quando era pequeno. Então na minha memória não vem muita coisa porque depois quando eu comecei a estudar mesmo e dar valor à viola. Porque quando é pequeno a gente não tem isso. Ver o pessoal tocando é qualquer coisa. Mas tem outros na família que também foram tocar, mas depois profissionalmente acabou saindo só eu. De estudar música e começar a pesquisar. Mas todo mundo toca. Tem essa grande vantagem!

 

Domingos: Pessoal toca, canta?

Juca: Todo mundo toca, canta. Na família da minha mãe todos os irmãos cantavam, tocavam. Era sanfona, violão, viola, pandeiro. Então todas as noites era muito divertido porque todo mundo ia pra lida, lida com gado, na fazenda, aquela coisa. E á noite todo mundo se reunia na casa pra poder tocar. Isso foi minha infância. E a gente começava ali aprendendo com eles. Então foi isso, tocando violão, viola, essas coisas.

Domingos: Você começou tocando qual instrumento?

Juca: Violão. Comecei com violão. Depois que eu fui estudar. Na verdade a viola chegou um pouco depois porque a gente brincava com a viola, mas não estudar viola. O que aconteceu foi que eu decidi fazer música e aí tal, fui pra São Paulo estudar, aí vem aquela fase da negação. Porque você vai pra São Paulo, eu me lembro muito quando eu fui pra lá. E assim que eu cheguei, primeiro, goiano, do interior, então chegava em São Paulo: “E aí? Bom demais? Essa cidade aqui, ó, trem bonito, esses arranha-céu aqui, ó… Aqui é famoso esse trem, fico muito satisfeito de estar aqui!” E todo mundo ria. Então você vai mudando aquele seu jeito de ser. E eu fui estudar no Teatro Municipal de São Paulo. Fui estudar pra ser maestro, compositor, aquela coisa toda. Então você começa a renegar porque o Adolfo Mariano não podia mais ser. Então tinha que ser agora Beethoven, Mozart e todos os compositores clássicos europeus, aquele eurocentrismo ali, tal. Então durante mais de uma década eu fiquei muito restrito a isso. Estudando violão, compositores eruditos, aquela coisa toda. E fui reger orquestra, regi orquestra, a Orquestra Sinfônica de Goiás eu comecei a reger tinha dezenove anos. Então foi um trabalho, começar isso, depois fui pro Paraná reger por lá também. E nesse período eu não pegava em viola. Era uma coisa, uma rejeição. Só que chegou um determinado momento que foi quando eu comecei a estudar até com o Claudio Santoro e tinha outro professor que eu gostava muito que é o Estércio [Marquez] Cunha. E eles dando aula e falando da importância da música brasileira, que o próprio brasileiro não dá valor. E cada vez que eu chegava dos lugares, ia tocar, ia falar, ia fazer alguma coisa, eu falava da música brasileira e era completamente rejeitado. E para piorar as coisas, quando eles falam da música brasileira, ligado às raízes, alguma coisa assim, que não é bem brasileira, que é o caso dos sertanejos, que é uma música country, uma música que tem muito mais a ver com o americano do que com o próprio brasileiro, então aquela influência e tudo mais. Então eu queria mostrar e eles falavam: “mas então como que é?” Aí eu fui pegar novamente a viola. Então eu fui buscar viola, fui pesquisar, voltei pro interior, pra estudar aquelas pessoas ali que tocavam, tiravam aquele som, como que era. Então fui atrás dos meus tios e tudo mais, então foi aí que foi o resgate da viola.

Domingos: Mas então você teve uma carreira como maestro?

Juca: Tive, tive e até hoje. Aqui em Brasília ele mesmo [refere-se ao Wellington, que acompanha a entrevista], até hoje ele só me chama de maestro, porque quando eu o conheci, há vinte e poucos anos era como maestro. Então em Brasília eu regi, tinha vários corais, Coral da Procuradoria Geral da República, Coral do Correio Braziliense, tudo isso foi como maestro. Carreira de viola era um pouco à parte. E depois é que a gente foi trabalhando a imagem do Juca Violeiro. Então aí já era uma outra coisa.

Domingos: Mas esse ambiente da chamada música clássica é diferente da música popular?

Juca: É completamente. Da música clássica o que acontece é que o preconceito é muito grande. Primeiro você tem que ter uma perfeição. Se você não é perfeito você é rejeitado. Começa por aí. E eu não acredito em perfeição. Mas outra coisa é que você se apresenta nos lugares e você tem que ser o erudito europeu. Então você tem que apresentar em primeiro lugar as músicas europeias. Depois você pode fazer qualquer outra coisa. No violão tinha um cubano que eu adorava, chamado Leo Brouwer, que foi ministro de Cuba. Eu toquei ele muitos anos e mesmo assim ainda era um pouco rejeitado porque eles preferiam que tocasse [Isaac] Albéniz, tocasse outras coisas que são eles lá. E na hora de reger a orquestra a mesma coisa. Na orquestra, mesmo aqui em Goiás, eu viajava muito com a orquestra, ia pelos interiores tocando e tudo mais. O público só ia quando a gente falava que tinha um compositor europeu. Se falasse num compositor brasileiro: Guerra-Peixe, Camargo Guarnieri, não atraía público. Tinha que ser Beethoven, tinha que ser qualquer um desses assim. Então isso de certa maneira começou a mexer muito comigo. Eu comecei a não gostar muito, porque eu falei: gente, eu sou compositor e sou brasileiro. Então não dá pra ser assim. E aí comecei então a ir pro mais básico que é a raiz. Buscar aquilo que é do povo mesmo, que é aquilo que eu escutava quando era menino, tomando a cachacinha desde pequeno lá pra abrir o apetite, tocando uma violinha e assim a gente ia!

Domingos: Foi gradual essa passagem, essa mudança… Você deixou de ser maestro, com foi?

Juca: Maestro a gente não deixa porque é o curso que a gente tem. É a formação, quer dizer, minha formação de músico erudito não tem como tirar isso. Mas hoje eu faço arranjos, faço algumas coisas, trabalhei muito em estúdio. Tive um estúdio lá no edifício Radio Center, onde a gente gravava, fazia um monte de produções lá. Mas acabou que esse lado do violeiro chamou mais atenção. E o que a gente trabalha muito… O Wellington, que é um grande ator e trabalha em vários filmes, aquela coisa toda e a gente faz muita peça também. Então já fiz muita música, muita trilha sonora pra peça de teatro, trabalhando diretamente em cena. Isso fez a mudança e aí, como vou dizer, o maestro está ali, o violeiro também está ali. Então há uma interação entre os dois. Isso que é mais interessante. Então no fundo o violeiro hoje é um personagem e esse personagem surge pra poder mostrar o que é aquele caipira mesmo. Com toda elegância possível e com todo respeito.

Domingos: E como impactou a sua vida essa volta pra viola, a partir do momento que você assume de novo a viola?

Juca: É interessante porque primeiro, quando você deixa o cabelo crescer tem isso, minhas filhas não me conhecem sem essa característica. E as pessoas acham que eu sou roqueiro! [Risos] Quando chega com case ali, alguma coisa: não, isso é roqueiro. Aí de repente tira uma viola! Isso aconteceu em vários lugares. Aqui em Brasília mesmo eu me lembro de uma apresentação que eu fiz no Gate´s Pub. E todo mundo achando que ia ser aquele rock pesado, de repente eu começo a tocar viola. E o pior, gostaram! Foi muito interessante, porque muitas vezes isso está longe do público. Então essa faz uma diferença. Mas eu acho que tudo convive muito bem, tem uma fala do Zé Mulato que eu acho muito boa. Existem dois tipos de música: música boa e música ruim. O que vai do gosto de cada um. Então eu acredito nisso também. Eu não acredito que tenha música melhor do que a outra. Eu acredito que são estilos diferentes, formas diferentes de você fazer. E porque muitas vezes esse preconceito que existe da música, de falar que uma música erudita: “essa é coisa!” Não, eu acho que é o estilo que se fez ali e o objetivo que se tinha com aquele conhecimento. Então acho que basicamente isso.


Domingos: E quando você chega a Brasília?

Juca: Brasília eu cheguei em [19]89, está fazendo trinta anos esse ano. Eu era maestro lá, era professor da Universidade Estadual, da UEM e era maestro da orquestra e do coral de lá. E o Claudio Santoro, eu já tinha trabalhado com ele como assistente em alguns cursos de verão. Tinha estudado com ele particular e ele faz um convite para eu vir pra Brasília, pra ser o assistente dele. Aí eu pedi demissão lá e vim embora pra Brasília. Aí cheguei aqui no início de janeiro e tal, conversei com ele, ele falou: “Olha, só que agora não vai ter como eu arranjar pra você um emprego aqui na Fundação Cultural.” Naquela época era Fundação Cultural ainda. “- Está muito difícil conseguir um contrato, faz o seguinte, arranja alguma coisa pra você fazer e logo logo eu arranjo esse contrato.” Falei: “Beleza!” O que aconteceu? Ele morreu! [Risos]. Em 89 Claudio Santoro morreu, dia 30 de março e eu fiquei sem nada. Fiquei desempregado, fiquei numa pindaíba danada. E aí fui tentando me refazer, trabalhando em estúdio, fazendo arranjos, trabalhando com teatro, na época estava começando lá. Trabalhava muito com Humberto Pedrancini, com José Regino. Então nós fizemos várias peças de teatro. Fui dar aula no [Teatro] Dulcina e aí fiquei lá dando aula no Dulcina um tempo. Fui diretor lá também da Faculdade, então foi isso. Foi um período. E aí vai mudando até retomar algumas outras coisas. Aí a viola vem nesse tempo aí também.

Domingos: O Claudio Santoro está sendo muito homenageado esse ano…

Juca: É pelos trinta anos de morte dele. Mas é uma pena porque ele não é valorizado no Brasil, não se tem esse valor. Porque um maestro como ele, um compositor de mão cheia como ele. Durante um tempo, assim que ele morreu, eu fiquei responsável por toda a obra dele, a família deixou isso comigo. Eu era contratado da Academia Brasileira de Música, era o Edino Krieger o presidente. Então eu recebia uma verba da academia pra tomar conta da obra dele, reconstruir algumas obras, algumas coisas. Tinha muito contato com a Alemanha, outros locais assim. Mas o que aconteceu? Os próprios brasileiros não valorizam, eles chegam no máximo até Villa-Lobos, mas não valorizam os outros. Claro, Villa-Lobos é um gênio maravilhoso. Mas tem vários outros que poderiam ser valorizados e não são. E as orquestras tocam pouco. Isso é uma pena.

 

Domingos: Será que o Claudio Santoro pensava a viola, você ouviu ele falar alguma coisa sobre isso?

Juca: Não, ele não tinha. O Claudio Santoro era muito sinfônico e foi o legado que eu acho que ele deixou, que ele tinha uma instrumentação sinfônica maravilhosa. Ele sabia combinar os instrumentos muito bem. E ele aprendeu muito isso na prática porque ele foi instrumentador da antiga Vera Cruz, companhia de cinema. Então ele produzia uma música por dia, tinha uma orquestra na mão. Então isso foi muito bom pra ele. Ele realmente aprendeu. Instrumentos separados ele fez algumas coisas, tanto é que a sonata para trompete e piano dele é a primeira sonata pra trompete e piano do mundo. Isso acho que nem brasileiro sabe disso. Então ele realmente conseguiu fazer isso, foi muito legal. Agora, ele não pensava nessa música brasileira. Ele mesmo falava que se arrependia também de algumas coisas mas passou o tempo. Quando ele era garoto ele teve contato com Villa-Lobos, aquela coisa, o Villa-Lobos já era um grande compositor e ele estava começando a carreira e aí ele teve um contato com o… O que escreveu Macunaíma, Mário de Andrade. Aí o Mario de Andrade passou alguns livros pra ele e chamou ele pra conversar pra dizer: “Olha, dê importância à cultura brasileira. Porque a cultura brasileira somos nós. Em qualquer lugar do mundo nós seremos estrangeiros, aqui não.” Então isso foi muito legal, ele começa a trabalhar isso, o problema é que ele já estava com um pé fora do Brasil e pra piorar as coisas, quando houve o golpe militar, em [19]64 ele foi exilado. E voltou no Brasil só no início dos anos oitenta. Então ele passou todo esse tempo fora. Mas ele tinha uma frase que era muito boa, uma vez ele estava na Alemanha, ele era professor de Mannheim-Heidelberg. Aí ele estava dando uma aula e falando sobre o Almeida Prado, que é um grande compositor brasileiro. Ele dando uma aula, quando ele terminou a aula, de explicar a partitura do Almeida Prado um professor lá quis dar uma de esperto. Chegou pra ele assim: “Eu gostaria só que o senhor me mostrasse o elemento brasileiro na obra de Almeida Prado”. Ele falou: “Pois não, assim que o senhor me mostrar o elemento alemão na obra de Bach!” Aí a pessoa não teve resposta. Porque ele falou assim: “Olha, se eu sou brasileiro eu faço música brasileira.” E isso era fantástico. Não é? Muito bom. Mas ele não teve esse contato que ele era amazonense, foi pro Rio de Janeiro, depois saiu do Brasil. A viola pra ele era uma coisa um pouco estranha.   

Domingos: Sensacional! Vamos colocar uma moda na conversa?

Juca: Vamos! [Dedilha a viola] Vamos! Essa daqui é uma história interessante. Peço licença pro Juca chegar aqui e fazer. [Fala com sotaque caipira mais carregado] É… Proquê é o seguinte, assim, uma vez estava proseando e me perguntaram: “Ô Juca, você é casado?” Falei: “Ó, eu já casei, já separei, casei e separei, esse negócio de vai e vem às vezes não é muito bom.” Então eu fiz essa moda aqui pra mostrar procês o que é o casamento. Então assim, casamento é assim:

[Toca viola caipira e canta a música “Caso não”, de sua autoria:]

Amor diz que é coisa linda mas faz a gente sofrer
Ninguém ama de verdade e só pensa no poder
Apaixonado fica cego sem querer
Parece uma doença, a gente vive por viver

Casar é bom, casar é ruim
Casar é bom, pode ser, não caso não
Casar é bom, casar é ruim
Casar é bom, pode ser, não caso não

Juca [Recita]: Proque muié é um bicho difícil né? É assim, antes de casar aquele doce, é coisa melosa assim. Aquele assim: ah, vem meu bem, ah vem. Agora é assim, depois que casa é assim: nem vem. É um tal de ter dor de cabeça terrível. Pior é quando separa, é assim: cadê meus bem?

Nunca casei, não tenho inveja de quem casa
Formiga sai do buraco, morre quando cria asa
Não sou casado e não tenho compromisso
Se ainda sou solteiro ninguém tem nada com isso

Casar é bom, casar é ruim
Casar é bom, pode ser, não caso não
Casar é bom, casar é ruim
Casar é bom, pode ser, não caso não

Juca: [Recita]: Proque senão acontece que nem um amigo meu. Ele chegou pra mim e falou assim: “O Juca, eu estou sentindo umas coisa esquisita, é assim, sabe? Tem dia que dá aquele frio na cacunda, um embrulho no estomago e assim, eu começo a passar mal, dá aquelas tonteira assim. E eu não sei o quê que tem. Você conhece alguém que conserte isso não?” Falei: “Uai, conheço uma pessoa boa demais, olha, é um pai de santo que tem. E esse pai de santo vai lá ele resolve tudo.” Ele falou: “Então vou lá.” Eu sei que nós fomos. Quando nós chegou lá que o pai de santo olhou pra ele. Ele fez: “Ish, uh, o quê que houve? Por que você está tão carregado assim?” Ele falou: ”Olha, sabe o que é pai de santo, é que aconteceu assim, há quarenta anos me jogaram uma praga que até hoje eu carrego essa praga. Todo dia quando eu me alevanto eu lembro aquelas palavra mágica.” Aí o pai de santo virou pra ele falou assim: “Uai, mas então está fácil demais. Você lembra das palavra mágica nós resolve agora. Quais foram as palavra mágica?” Ele falou assim: “Eu vos declaro marido e mulher.”

[Canta]

A minha prima se casou, ficou falada
Hoje vive arrependida, tenho pena da coitada
O seu marido se mudou pra outra esquina,
Hoje ela está sozinha cuidando da filharada.

Casar é bom, casar é ruim
Casar é bom, pode ser, não caso não
Casar é bom, casar é ruim
Casar é bom, pode ser, não caso não

Juca: É isso! [Risos] você não é casado, não? Ah, ó, é casado. Pior que eu também sou casado, fazer isso não tem… [Risos]

Wellington: Quarenta anos chega rápido.

Juca: Chega rápido. Logo vai lembrar das palavras mágicas. (Continua…)