Roberto Corrêa

“Muitas vezes, quando eu toco viola, as pessoas falam:
viola dá uma saudade de não sei o quê.”

Entrevista com o músico, professor e pesquisador Roberto Nunes Corrêa, morador de Brasília-DF.

Encontro realizado em sua residência em Park Way, Brasília-DF, dia 10 de fevereiro de 2018.
Entrevistadores: Domingos de Salvi, Sara de Melo, Daniel Choma e Tati Costa.
Transcrição: Tati Costa. Fotos e editoração: Daniel Choma.

Roberto Corrêa nasceu em Campina Verde-MG, dia 11 de março de 1957.


Domingos:
  Roberto, você é natural de onde?

Roberto:  Campina Verde, triângulo mineiro, pontal do triângulo. Nasci em 1957. Morei lá até os dezessete anos. Em 74 eu fui pra Belo Horizonte pra fazer o terceiro ano do ginásio e depois em 75 já estava aqui em Brasília. E não saí mais.

Domingos:  Não tinha o terceiro ano lá na sua região?

Roberto:  É aquele negócio do interior, que não tem. Você tem que fazer vestibular, aquele negócio todo… E que não dá um suporte, [então] você vai pra um lugar que tem uma estrutura de colégio mais forte. Foi essa ideia de vir pra Belo Horizonte, que é mais natural porque é a capital de Minas. Mas depois que eu fiz o terceiro ano e não passei no vestibular, pra fazer cursinho eu vim pra Brasília. Muita gente já estava vindo pra Brasília, porque é mais próximo de Campina Verde do que Belo Horizonte.

Domingos:  E lá em Campina Verde você vivia num contexto mais urbano ou tinha uma vida rural também?

Roberto:  Os dois, porque até os treze anos eu vivia na cidade com a minha mãe, que meu pai tinha fazenda, mas era no Mato Grosso, aquela região de Aquidauana, uma fazenda muito longe, gastava três dias de jipe pra chegar lá. Uma “fazenda bruta” que a gente chama. E minha mãe trabalhava na procuradoria e queria que eu estudasse. Enfim, não queria que eu levasse essa vida que meu pai levava. Mas aí com treze anos, em 1970 exatamente, o meu pai vendeu lá e comprou uma fazenda em Campina Verde. Aí eu passei a ir à fazenda direto, às vezes ficava o dia inteiro na fazenda e estudava à noite. Aí entrou a vida rural. Domingos:  Você tem alguma memória de música nesse contexto?

Roberto:  Tenho assim, de vida urbana, porque Folia de Reis… Todo ano passava lá em casa a Folia do Zé Pequetito, mas eu não tinha uma ligação com eles, esse tipo de música. E acabei fazendo esse percurso do jovem daquela época, acabei me interessando e comecei a estudar violão. Violão aos dez anos, com um professor chamado José da Conceição, que era solista, chegou a gravar em São Paulo dois, três discos. E era de Campina Verde, mudou pra lá. A gente aprendia de ouvido, solar de ouvido, que ele fazia arranjos de temas de filmes e tal. Mas “gostar de música”, comecei com o rock. A gente era, na década de setenta, Black Sabbath, Led Zeppelin, The Purple – esse foi o meu início. Depois eu comecei a ficar mais interessado com a música brasileira e por tudo, aí comprei só música popular brasileira. Depois entrei na música caipira e fui fazendo esse percurso, música barroca… Fui fazendo esse percurso de se interessar por determinado tipo de música e comprar e escutar e aprender sobre.

Domingos:  E violeiro, tinha na região? Você lembra de alguma coisa que te marcou em relação à viola?

Roberto:  Não, não tinha nessa época não. Quando eu me interessei por viola, que foi em [19]77, que comecei a pesquisar. Aí sim, descobri que tinham muitos violeiros em Campina Verde – mas eu não tinha interesse na época. Aí sim, eu fui, convivia com eles, gravava, enfim, aprendi muito com violeiros de lá. O João Souza, por exemplo, tocava em doze afinações diferentes. E ele lembrava, porque era de uma época antiga… Então eu dei uma viola pra ele, uma viola xadrez pra ele poder ficar lembrando os toques. E toda vez que eu chegava lá tinha vários toques que ele lembrava ou que ele fazia… E tinha outros violeiros, catireiros, foliões. Aquela região é muito rica de violeiros, o triângulo [mineiro], Uberlândia, Uberaba… Então tinha muito violeiro. Enfim, foi uma região que era fácil, que era perto de Campina Verde e que eu pude aprender bastante com esses violeiros antigos.

Domingos:  Mas quando você veio pra Brasília, veio fazer o quê aqui?

Roberto:  Física. Física, não, eu vim prestar vestibular pra área das exatas. Por que área exatas? Porque eu tinha muita facilidade. Eu tinha um professor lá em Campina Verde chamado Plínio Quinete, ele era uma cabeça o cara. O cara muito inteligente e ele meio que adotou eu e mais dois ou três colegas no curso lá, que a gente era bagunceiro mas… E a gente acabou se interessando por química, por física, matemática. E todos nos interessamos por conta dele e acabei aprendendo muito matemática e física. E aí eu fiz vestibular pra exatas, acabei passando pra física. Aí comecei a construir dentro da minha cabeça uma história com física, que eu ia fazer física nuclear e tal… Tudo fantasia, né? [Risos] Tudo fantasia, porque eu já estava muito embrenhado com a música, com a viola caipira. E o curso de física acabou se tornando quase que um empecilho, mas eu acabei terminando física, fiz bacharelado, depois fiz licenciatura. Depois imediatamente fui dar aula na Secretaria, eu passei num concurso, fui dar aula na Secretaria de Educação, aula de física, enquanto fazia música na UnB [Universidade de Brasília]. (Continua…)