“Carne quebrada,
nervo torto,
em nome de Deus e da Virgem Maria,
São Virtuoso.
Se é carne quebrada eu cozo,
se não é também descozo,
em nome de Deus e da Virgem Maria,
São Virtuoso.”
Benzedura citada por Maria Joaquina Gonçalves Duarte (Dona Elias),
rendeira da Ilha de Santa Catarina.
Entrevista realizada em 26 de julho de 2013
na Lagoa da Conceição, Florianópolis – SC
POR TATI COSTA, NICE NUNES, TELMA PIACENTINI E DANIEL CHOMA | ACERVO: CÂMARA CLARA
TATI – Onde a senhora nasceu? Em que ano?
ELIAS – Nasci lá na Barra da Lagoa, em 1926.
TATI – Seus pais, de onde são?
ELIAS – Minha mãe era da Barra e meu pai era lá da Costa da Lagoa.
TELMA – Sabe como eles se encontraram, porque naquele tempo não tinha estrada, não tinha nada?
ELIAS – Era de canoa. Porque meu pai pescava na Barra, aí minha mãe pegou a gostar dele.
TELMA – Namoraram e casaram?
ELIAS – Não casaram, era lá e cá. [Risos]
Ele já era casado. Mas era um moreno muito bonito. Aí ficou…
TATI – Como a senhora aprendeu a fazer renda?
ELIAS – Isso fica de mãe pra filha.
TATI – E como foi, a senhora lembra a primeira vez que a senhora fez uma rendinha?
ELIAS – Lembro. Minha mãe fazia rede porque o meu pai deixou ela, aí ela pegou a fazer rede pra nos sustentar. Era eu e mais dois irmãos. Ela fazia rede, eu enchia aquelas agulhas dela e depois eu pegava com quatro pedacinhos de bambu, cortava, amarrava um pedaço daquele fio que ela fazia a rede. Eu ia com um travesseiro mexendo aqueles pauzinhos pra lá e pra cá. Ia aprendendo, depois ela me ensinou.
NICE – Com quantos anos a senhora fazia isso?
ELIAS – Fazia com seis, sete anos.
TATI – E o que precisa pra fazer uma boa renda?
ELIAS – Tudo: esses bilros, alfinete, esse pique – chamamos pique, outros chamam papelão isso aqui. E essa almofada.
TATI – E de habilidade?
ELIAS – Quanto mais a gente faz ligeiro, melhor.
TATI – Desde esse tempo que a senhora aprendia com sua mãe, pra onde vendia a renda?
ELIAS – Eu era pequeninha, quase oito anos de idade, passava uma senhora que era amiga da família da minha mãe lá do Rio Vermelho. Elas iam vender ovos e azeite daquela mamona, vocês conhecem?
Iam vender ovos lá pra cidade, ia de pé. Então elas vinham do Rio Vermelho, ficavam lá em casa, no outro dia elas iam ao centro. Então eu ia com elas, levava duas, três pecinhas de renda. Vendia lá embaixo, na Caixa Econômica (no centro de Florianópolis).
Esta conversa continua!
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com a íntegra da entrevista com
Maria Joaquina Gonçalves Duarte (Dona Elias), ou clique aqui para baixar a Ficha de Entrevista com o resumo dos principais temas abordados.
Abaixo, vídeo com trechos do encontro.
Ficha Técnica Local da entrevista: Loja de rendas e presentes mantida pela Dona Elias na Avenida das Rendeiras, Lagoa da Conceição, Florianópolis - SC. Data: 26/07/2013. Participantes: Tati Costa (entrevista e captação de som); Nice Nunes (entrevista); Telma Piacentini (entrevista); Daniel Choma (entrevista e câmera). Projeto de origem da entrevista: Oficina Intergerações. Apoio: Barca dos Livros. Produção da Oficina Intergerações (2013) e Acervo: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Transcrição da entrevista para projeto Memória Rendeira (2021): Tati Costa | Editoração: Daniel Choma Trilha musical do vídeo: Domingos de Salvi | Montagem: Daniel Choma | Pesquisa e Produção: Tati Costa Programação do site: André Bets