“[Aprendi a fazer renda de bilro] na faixa de uns quatro, cinco anos de idade. Porque com sete anos a gente já trabalhava, já fazia renda pronta. Primeiro a gente aprendia com quatro pares de bilros, dois de cada lado, só para aprender a torcer e a fechar o ponto.”
Daura Lucia Correia,
rendeira da Ilha de Santa Catarina.
Entrevista realizada em 03 de julho de 2012
no Pântano do Sul, Florianópolis – SC
POR TATI COSTA E DANIEL CHOMA | ACERVO: CÂMARA CLARA
DANIEL – A senhora aprendeu renda de bilro com qual idade?
DAURA – Na faixa de uns quatro a cinco anos, por aí, porque com sete anos a gente já trabalhava… Sete anos de idade a gente já fazia renda pronta mesmo. Para aprender era de quatro a cinco anos de idade, já estava aprendendo.
E nem era assim com todos os bilrinhos, primeiro a gente aprendia com 4 pares. Dois de cada lado, só para aprender a torcer e a fechar o ponto. Daí eu fiz até, mais ou menos, os meus 14 anos e pouco, que trabalhei na renda. Depois eu não fiz mais porque fui morar com meu tio e não trabalhei mais com a renda. Só fui voltar a trabalhar já depois de uns quarenta anos. Porque nessa época, entre esse tempo, eu casei, não morei aqui, fui morar fora.
TATI – Morou onde?
DAURA – Morei em Santos-SP. Depois que vim pra cá e comecei. Mas a minha mãe também, desde novinha fazia e fez até os noventa anos. Ela fazia direto. Sempre tinha novidade, sempre ela estava fazendo renda. Antigamente, pra vender as pessoas tinham que vender a uma senhora que era no Morro das Pedras, Ribeirão da Ilha, que compravam.
Depois tinha uma senhora do Pântano do Sul que comprava, dona Dica, a dona Geni. Tudo eram senhoras que compravam a renda. Depois tinha a dona Marta, na Armação, também comprou muito da minha mãe. Depois, por último, aqui deu uma parada. A renda deu uma parada muitos anos sem as pessoas mexerem com isso. Bem poucas pessoas continuavam com a renda. Agora a Katia pôs aquela loja, a mãe continuou vendendo para ela, como muita gente até do Ribeirão vendia ali, da Armação também.
Agora que aflorou de novo. Foi bom. Eu acho que foi muito bom porque pessoas que já estavam muito tempo sem trabalhar e eram aposentadas, ficavam sem fazer nada, não tinha outra ocupação. A única ocupação que tinham ali era esse encontro dos idosos, não fazia nada. Assim outras pessoas aprenderam, quem é novo quis aprender e as pessoas de idade estão preenchendo seu tempo. É bom pra mente da gente.
TATI – Mas a senhora fez continuamente depois que a senhora retomou?
DAURA – Depois que retomei não fazia pra vender, fazia mesmo pra casa, pras minhas filhas. Agora que estou fazendo, a gente tem pra onde vender, antes não tinha, podiam até fazer mas não tinha onde vender. Depois que a Katia teve a loja, aí ela começou a comprar. Depois que ela fechou também tinha gente que desanimou, não tinha pra quem vender.
Agora eu acho que tem bastante. Que eu sei, deve ter umas vinte pessoas, mais ou menos, trabalhando nisso aí. Quem não trabalha lá na Associação [de Moradores do Pântano do Sul] trabalha em casa. Eu não faço sempre, mas aqui na minha rua tem quatro, cinco pessoas que fazem a renda, que eu sei, já é bastante. Fora quem faz na Associação.
DANIEL – Você e a sua mãe faziam em casa, sozinhas?
DAURA – É. A gente sempre trabalhou sozinha. Sempre era assim, cada uma trabalhava nas suas casas. Lá tinha época, no verão, como as pessoas gostavam, era calor, as casas não eram assim tão juntas uma com a outra e os terrenos eram tudo junto. Aí sempre se juntavam ali, duas ou três mulheres, numa sombra no quintal e faziam renda juntas.
Eu fazia renda, quando era mocinha, na casa da minha amiga, mas era porque a gente era mocinha, queria estar conversando, essas coisas. Eu ia na casa dela ou ela vinha na nossa casa, era assim. Mas a maioria sempre trabalhou sozinha, em casa. Para trabalhar junto, assim como estão agora, em comunidade, só essa época, que eu lembro, estão começando agora. Também as pessoas não tinham tantas ideias como tem agora. Agora já tem mais novidade, mais ideias…
Esta conversa continua!
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Daura Lucia Correia, ou clique aqui para baixar a Ficha de Entrevista com o resumo dos principais temas abordados.
Abaixo, vídeo com trechos do encontro.
Ficha Técnica Local da entrevista: Residência da entrevistada, Pântano do Sul, Florianópolis - SC. Data: 03 de julho de 2012. Participantes: Tati Costa (entrevista e captação de som); Daniel Choma (entrevista e câmera). Projeto de origem da entrevista: Intergerações – artes do fazer e do lembrar. Parcerias do projeto de origem: Instituto 3 Vermelho – Ponto de Cultura Baleeira; Banda da Lapa – Ponto de Cultura Educação Musical Popular; Rádio Campeche – Ponto de Cultura TOCA; LIS – Laboratório de Imagem e Som – UDESC; Prêmio Ação Cultura Digital – Ação Cultura Viva - Ministério da Cultura – Governo Federal. Produção do Projeto Intergerações (2011) e Acervo: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Transcrição da entrevista para projeto Memória Rendeira (2021): Tati Costa. | Editoração: Daniel Choma. Trilha musical do vídeo: Domingos de Salvi | Montagem: Daniel Choma | Pesquisa e Produção: Tati Costa Webmaster do site: André Bets