“No nosso café, de manhã, meu falecido pai vinha da praia às dez horas e minha mãe já estava fazendo caldo de peixe para nós todos. Botava na sala e todo mundo comia ali, sentado na esteira. É, antes era assim… Agora não está mais difícil, está melhor! Porque agora tem fartura, os filhos agora escolhem o que querem comer, não é? Antes ninguém podia reclamar. Se quisesse comer aquilo ali, come. Se não quisesse, não comia.”
Helena Francisca da Silva,
rendeira da Ilha de Santa Catarina.
Entrevista realizada em 02 de julho de 2012
no Ribeirão da Ilha, Florianópolis – SC
POR TATI COSTA E DANIEL CHOMA | ACERVO: CÂMARA CLARA
TATI – A senhora é nascida onde?
HELENA – Campeche (Florianópolis-SC).
TATI – E o nome dos seus pais?
HELENA – Manoel Rafael Inácio e Francisca Paulina Inácio.
TATI – Que ano a senhora nasceu?
HELENA – Eu sou de 1946.
TATI – E como foi sua infância ali?
HELENA – Foi legal, foi boa. Na praia, levando café e almoço para o falecido meu pai. Na roça também ajudando meu pai, naquela época, a criar todos os filhos.
Ele sustentava com o sustento da praia, do peixe, tinha rede pesca que agora ficou com dois filhos: com o Getúlio e o Aparício. Os dois filhos dele, é separado, cada um tem a sua parte da rede. Não pode acabar, não é? Não pode deixar…
DANIEL – Então foi boa a infância lá no Campeche?
HELENA – Foi legal, foi! Pela época que se tem por agora…
TATI – Por quê?
HELENA – Olha… Porque antes não existia geladeira. Não existia fogão a gás, era fogãozinho à lenha. Não sei como é que pode, não estragava a comida. Não tinha geladeira, mas não estragava a comida! É… E a gente passava assim mesmo: carne se comia só quando tinha festa. Encomendavam a carne na casa da pessoa que matava o boi, aí a gente ia lá pegar carne, comprava. No mais, a comida era peixe.
TATI – No dia-a-dia era peixe?
HELENA – No nosso café, de manhã, tinha muitas vezes que a gente comia… Meu falecido pai vinha da praia às dez horas, minha mãe estava fazendo caldo de peixe para nós todos. Botava na sala, todo mundo comia ali sentado na esteira.
É, antes era assim… Agora, não está mais difícil, está melhor! Porque agora tem fartura, os filhos agora escolhem o que querem comer, não é? Antes ninguém podia reclamar. Se quisesse comer aquilo ali, come. Se não quisesse, não comia. É… Só tinha aquilo pra gente comer.
TATI – Além de peixe, o que mais comia? Era só o peixe, ou fazia feijão?
HELENA – Não, não. Minha mãe fazia feijão… Uma vez ou outra fazia carne, galinha que criava no terreiro. Não é igual agora, essas galinhas que a gente compra congelada. Como se diz: era galinha caipira.
TATI – O teu pai trabalhava na pesca?
HELENA – Toda a vida na pesca!
DANIEL – E a sua mãe, trabalhava em quê?
HELENA – Minha mãe era de casa, trabalhava em casa. Lavava roupa, cuidava dos filhos, fazia comida, aquilo tudo!
Esta conversa continua!
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com a íntegra da entrevista com
Helena Francisca da Silva, ou clique aqui para baixar a Ficha de Entrevista com o resumo dos principais temas abordados.
Abaixo, vídeo com trechos do encontro.
Ficha Técnica Local da entrevista: Residência da entrevistada, Ribeirão da Ilha, Florianópolis - SC. Data: 02/07/2012 Participantes: Tati Costa (entrevista e captação de som); Daniel Choma (entrevista e câmera). Projeto de origem da entrevista: Intergerações – artes do fazer e do lembrar. Produção: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Projeto de origem da entrevista: Intergerações – artes do fazer e do lembrar. Parcerias do projeto Intergerações (2012): Instituto 3 Vermelho – Ponto de Cultura Baleeira; Banda da Lapa – Ponto de Cultura Educação Musical Popular; Rádio Campeche – Ponto de Cultura TOCA; LIS – Laboratório de Imagem e Som – UDESC; Prêmio Ação Cultura Digital – Ação Cultura Viva - Ministério da Cultura – Governo Federal. Produção do Projeto Intergerações (2012) e Acervo: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Transcrição da entrevista para projeto Memória Rendeira (2021): Tati Costa | Editoração: Daniel Choma Trilha musical do vídeo: Domingos de Salvi | Montagem: Daniel Choma | Pesquisa e Produção: Tati Costa Programação do site: André Bets