“Com seis anos de idade, eu tinha que fazer renda de metro, mais fininha, pra comprar um vestidinho pra ir à missa. Assim que ela, minha mãe, me ensinou.”
Anita Maria Lopes de Moraes,
rendeira da Ilha de Santa Catarina.
Entrevistas realizadas em 08/12/2011 e 02/07/2012
no Ribeirão da Ilha, Florianópolis – SC
POR TATI COSTA, DANIEL CHOMA, ANDERSON LIMA, REGINALDO FERREIRA E CARLOS EDUARDO DA CUNHA | ACERVO: CÂMARA CLARA
TATI – Era teu brinquedo, então?
ANITA – Era meu brinquedo, brincava muito de casinha, gostava de brincar de casinha, boneca, mas na hora que eu largava a renda é que tinha que fazer isso, durante a renda não podia brincar. Assim me criei.
TATI – A brincadeira era o quê mais?
ANITA – Brincadeira de loucinha de barro, que se comprava naquele tempo, aquelas loucinhas de barro. Hoje tem aquelas bonecas lindas, eu não brinco mais. Eu ganhava um boneco de celuloide de ano em ano, todo Natal meu pai comprava um boneco de celuloide naquele tempo. Foi assim que fui criada.
Como menina era inocente, toda vida, até grande. Eu era grandona e brincava de boneca ainda, fazia renda e com dezoito anos brincando de boneca. Saía daqui, largava a renda, enquanto minha mãe não estava perto de mim eu brincava de boneca. Enchia a almofada de boneca, tinha loucura por essas brincadeiras. A gente era bem ingênua, bem criança mesmo.
TATI – Tua mãe aprendeu com quem?
ANITA – Minha mãe aprendeu com os parentes dela daquele tempo, com a mãe dela, com a avó.
TATI – Quer dizer que passa de uma pra outra?
ANITA – Só que a minha família, minhas filhas, minhas netas não sabem fazer renda, nunca quiseram aprender, nunca teve paciência de aprender. Porque hoje a vida é outra.
ANITA – Só se trabalha com quatro bilros, quatro só. Você pega dois, larga dois, pega mais dois, fica com dois, sempre assim. Você só trabalha com quatro bilros. Todas as rendas que tem, pode ser uma renda grande, com bastante de bilro, porque quando maior mais bilro leva. Então é assim, larga dois e pega dois, fica sempre com quatro na mão fazendo, sempre assim.
TATI – Com quantos bilros a senhora está trabalhando?
ANITA – Olha, nem contei quantos bilros, por que eu faço… Eu gosto de trabalhar com poucos bilros. Um bilro, um par, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, quatorze! São 28 bilros. Essa leva bastante bilro.
TATI – Queria que a senhora apresentasse pra gente, faz de conta que eu não sei que isso se chama almofada…
ANITA – Bem, isso é a almofada pra fazer a renda, pra montar a renda, e o desenho a gente faz. Eu tenho aí desenho de tudo quanto é largura, pequeninho assim, coisa mais linda, tenho até amostra – depois vou pegar pra vocês, porque não peguei antes. Mas tanto desenhava renda grande, como desenhava pequeninha.
Agora fiz muito há pouco tempo, muita miudinha, encomenda, essa aqui chama-se… Naquele tempo eles davam o nome Orelha de mula, essa aqui, a Orelhinha, entendeu como que é? Essa aqui é a Orelhinha. Porque ela é comprida. Tudo tinha nome!
Esta conversa continua!
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com a íntegra da entrevista com
Anita Maria Lopes de Moraes, ou clique aqui para baixar a Ficha de Entrevista com o resumo dos principais temas abordados.
Abaixo, acesse vídeo com trechos do encontro.
Ficha Técnica - 1ª entrevista - 2011 Local da entrevista: Residência da entrevistada, Freguesia do Ribeirão da Ilha, Florianópolis - SC. Data: 08 de dezembro de 2011. Participantes: Tati Costa (entrevista e captação de som); Daniel Choma (entrevista e câmera principal); Anderson André Lima (entrevista e câmera adicional); Reginaldo Maurício Ferreira (entrevista e captação de som); Carlos Eduardo da Cunha (fotografia still). Projeto de origem da entrevista: Intergerações – artes do fazer e do lembrar. Parcerias do projeto Intergerações: Instituto 3 Vermelho – Ponto de Cultura Baleeira; Banda da Lapa – Ponto de Cultura Educação Musical Popular; Rádio Campeche – Ponto de Cultura TOCA; LIS – Laboratório de Imagem e Som – UDESC; Prêmio Ação Cultura Digital – Ação Cultura Viva - Ministério da Cultura – Governo Federal. Produção do Projeto Intergerações (2011) e Acervo: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Transcrição da entrevista para projeto Memória Rendeira (2021): Tati Costa. | Editoração: Daniel Choma. Ficha Técnica - 2ª entrevista - 2012 Local da entrevista: Residência da entrevistada –Freguesia do Ribeirão da Ilha – Florianópolis - SC. Data: 02 de julho de 2012. Participantes: Tati Costa – Entrevista e Captação de Som; Daniel Choma – Câmera e Entrevista. Produção: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Projeto de origem da entrevista: Intergerações – artes do fazer e do lembrar. Parcerias do projeto de origem: Instituto 3 Vermelho – Ponto de Cultura Baleeira; Banda da Lapa – Ponto de Cultura Educação Musical Popular; Rádio Campeche – Ponto de Cultura TOCA; LIS – Laboratório de Imagem e Som – UDESC; Prêmio Ação Cultura Digital – Ação Cultura Viva - Ministério da Cultura – Governo Federal. Produção: Câmara Clara – Instituto de Memória e Imagem. Transcrição da entrevista para projeto Memória Rendeira (2021): Tati Costa. | Editoração: Daniel Choma. Trilha musical do vídeo: Domingos de Salvi | Montagem: Daniel Choma | Pesquisa e Produção: Tati Costa Programação do site: André Bets