A saga da cafeicultura no Norte do Paraná teve um involuntário documentarista, que só agora poderá ser conhecido do público através do resgate de seus registros como fotógrafo amador. A iniciativa envolve uma exposição, o lançamento de um livro e a edição de um CD Rom - tudo com imagens captadas pelo engenheiro agrônomo aposentado Armínio Kaiser entre as décadas de 50 e 70, período em que ele trabalhou como assistente técnico do Instituto Brasileiro do Café (IBC).
O projeto foi desenvolvido pela associação cultural Câmara Clara, com recursos do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic). A abertura da exposição e o lançamento do livro ''Ao Sabor do Café: Fotografias de Armínio Kaiser'' ocorrem amanhã, às 20 horas, na Sala José Antonio Theodoro, na Secretaria de Cultura de Londrina. O livro traz 151 fotos selecionadas de um acervo de mais de mil negativos recuperados.
O CD Rom, por sua vez, está em fase de finalização e reunirá cerca de 200 imagens que poderão ser vistas e revistas em computador. O livro terá 65% dos exemplares distribuídos gratuitamente a escolas e instituições públicas. Ao longo de suas páginas, o leitor acompanha etapas e atividades relacionadas ao café: desmatamento de terras virgens, preparo da terra, a vida nas colônias, plantio, cultivo, florada, colheita, armazenagem, geadas, o grande incêndio de 1963, erradicação e o êxodo rural gerado pela mecanização das lavouras.
A obra contém ainda três textos memorialísticos do autor. Aos 83 anos, Kaiser comemora a repercussão tardia de suas fotos. ''Estou numa correria para divulgar o evento'', diz. ''Na época em que fiz as fotos, a fotografia era apenas um hobby, não fazia parte de minhas obrigações profissionais. Eu tirava as fotos e depois as reunia em álbuns seriados para mostrar aos cafeicultores. Era uma maneira de ilustrar as informações que lhes passava sobre colheita, adubação, erradicação, erosão, etc'', conta.
Sem querer, o que foi registrado pelas lentes de sua câmera, transformou-se num rico documento sobre o auge e o declínio da cafeicultura na região. ''Ele era um exímio fotógrafo, com grandes cuidados na composição. Além disso, tinha um olhar humanitário. A recuperação de seu acervo tem grande valor e terá desdobramentos em pesquisas futuras'', salienta Edson Vieira, que coordenou o projeto de resgate ao lado de Daniel Choma e Tati Costa.
''Foi um trabalho de equipe. Sem eles, as fotos continuariam guardadas em casa'', assinala Kaiser. Nascido em Salvador (BA), o autor trabalhou como técnico do IBC de 1953 a 1989, aposentando-se um ano antes da extinção do Instituto. Em 1957 iniciou trabalhos no Paraná a fim de incentivar o controle da erosão provocada pelo plantio em quadras.
Sua atuação abrangia a área entre os rios Paranapanema e Ivaí, de Nova Esperança ao Rio Paraná e o trecho entre Arapongas e as barrancas do Paranapanema. A relação com a fotografia vem dos báus de seu avô, fotógrafo na Bahia. Ao rever as imagens agora recuperadas, ele revela um olhar crítico e nada edulcorado da realidade que testemunhou no campo. ''Não concordo com quem diz de 'aquele tempo é que era bom'. O café trouxe dinheiro e ajudou a desenvolver o Paraná, mas a um custo muito alto, de muito sacrifício. O desassossego de hoje é consequência das turbulências sociais daquela época'', argumenta.
A exposição de fotos fica aberta à comunidade até o dia 18 de novembro. E quem não puder comparecer ao lançamento do livro, poderá adquirí-lo pelo telefone (43) 9102-6099.
Serviço
- ''Ao Sabor do Café - Fotografias de Armínio Kaiser''
Quando - Amanhã, às 20 horas
Onde - Sala José Antonio Theodoro, na Secretaria Municipal de Cultura (Praça 1º de Maio), em Londrina
Nelson Sato
Reportagem Local