Macedo e Mariano

“Quando é de tardezinha, o quintal pra capinar
Tapioca, leite e café, pois eu prefiro é merendar
E na viola nós emenda, um pagode pra esquentar
E aí a patroa estranha, um beijo meu ela ganha
E assim eu vou vivendo: na manha da ariranha
Na manha da ariranha, na manha da ariranha…”

Entrevista com a dupla Macedo e Mariano, moradores de Vicente Pires-DF.

Gravação realizada no Orbis Estúdio, em Vicente Pires-DF, no dia 11 de dezembro de 2019.
Entrevistadores: Domingos de Salvi, Sara de Melo, Daniel Choma e Tati Costa.
Transcrição: Tati Costa. Fotos e editoração: Daniel Choma.

Nascidos em Brasília em dezembro de 1980, Macedo é do dia 18 e Mariano do dia 25.

 

Domingos: Você é natural de onde, Macedo?

Macedo: Daqui mesmo, de Brasília. Nascido e criado aqui, passei uma temporada pequena em Minas, mas nascido e criado aqui mesmo, Distrito Federal.

Domingos: Em qual cidade?

Macedo: Até os vinte e cinco anos em Ceilândia. Nasci, morei lá e agora recentemente, uns dez anos estou morando aqui na Vicente Pires, inclusive. Mas a descendência é lá da Ceilândia.

Domingos: E você, Mariano?

Mariano: Sim, também nascido e criado com muito orgulho aqui no DF e importante lembrar também que da periferia do DF. Porque já que a gente está falando aqui e isso vai ser divulgado amplamente. Ainda tem um mito de quando a gente fala que é de Brasília o pessoal se autoafirmar que a gente é ali do Congresso, dos ministérios ali e na verdade Brasília vai muito além disso. Uma prova disso somos nós que estamos aqui. A gente é da periferia de Brasília. Eu, a exemplo do Macedo também, já tem algum tempo que a gente não mora mais, mora em outra cidade satélite que também não é Brasília. Brasília é só o aviãozinho lá e o Congresso. Mas com muito orgulho a gente é da periferia de Brasília aqui. E é isso aí!

Domingos: E logo na infância vocês já tinham algum envolvimento com música? Tem alguma lembrança?

Macedo: Rapaz, eu costumo dizer que a gente já nasce, você não escolhe ser músico, a música te escolhe! Eu me lembro que desde pequeno quando eu escutava uma música caipira eu já arrepiava. Desde criança, que a lembrança permite a gente lembrar ali, de cinco, seis anos pra cá eu me lembro que eu escutava uma música caipira eu já me arrepiava, já gostava. E meu avô inclusive Domingos Macedo, foi um grande violeiro, mas eu não tive o prazer de conhecê-lo. Na minha família tem duplas da minha mãe, meus tios, que são cantores também, tocadores. Mas eu não tive muita, vamos dizer, influência deles pela distância. Eles moravam lá em Minas, sempre morou em Minas e eu aqui em Brasília. Mas a gente tinha aquele contato familiar, uma vez por ano e olhe lá! Mas não deixa de ser uma influência.

Domingos: E você, Mariano?

Mariano: É. Isso aí é bem verdade mesmo essa questão de que a gente já nasce com esse tino. Porque a gente é nascido e criado, eu, meus pais goianos. Papai sempre foi caminhoneiro e ele trazia antigamente tinha aquelas fita K7. E tinha umas malas, ele tinha aquelas malas grandes de fita K7, tudo de música caipira, sertaneja, um ou outro tinha um Roberto Carlos, Sula Miranda, mas a maioria era Tião Carreiro e Pardinho, Léo Canhoto e Robertinho, e assim vai. Zico e Zeca. E me lembro muito bem que a gente, quando ele estava em casa, que era um pouco raro pelo fato do ofício dele. Eu sentava no sofá, eu no sofá de cá, ele de lá e o rádio ali. E a gente escutava mesmo a música, o disco, escutava o disco, os dois ficavam lá sem falar nada, só escutando. Isso repetiu algumas vezes. Aí terminava um lado, eu ia lá levantava, virava o disco, a gente escutava do outro lado. E é isso. E isso marca nossa infância. Até um episódio também que eu gosto de falar também que no tempo da minha infância tinha aquela novela “Carrossel” na televisão. Eu sou do meio lá em casa, é eu, um mais novo e outra mais velha. No mesmo tempo dessa novela também estava passando a novela “Pantanal”. No mesmo horário inclusive. E era uma briga porque eu queria assistir o “Pantanal” [Risos] E o meu irmão e minha irmã queriam assistir o “Carrossel”. Então tinha uma treta familiar, mas que sempre se resolvia. Uma televisão só a gente sempre conseguia se resolver!

Domingos: E você acha que a novela “Pantanal” teve uma importância na difusão da viola, nesses tempos?

Mariano: Naquele tempo eu acho que sim. Especialmente pelo personagem ali do Almir Sater. Eu nunca tive o prazer de ter com ele assim diretamente, já assisti alguns shows dele. Eu acho que no show que assisti ele estava um pouco ainda querendo sair do estereótipo do personagem dele, não sei, mas o público, de modo geral, ele correlaciona o artista ao personagem. Então se ele vai num show ali do artista, da pessoa física que está ali, que não é o personagem, aí ele toca. Não me lembro muito bem o nome dos personagens ali, mas não me lembro bem, tinha ele e o Sérgio Reis, acho que é porque uma exibição de âmbito nacional… Então de certa forma acho que ajudou na difusão um pouquinho da viola ali naquela situação.

Macedo: É bom mencionar que eles foram os protagonistas que sempre apareciam ali cantando, tocando…

Mariano: Sim…

Macedo: Mas de vez em quando teve algumas aparições do nosso saudoso Goiano, Goiano e Paranaense. Cantando inclusive uma música que retratava uma das personagens principais da novela que era a Dolores Estrada. E eles fizeram uma música especialmente para essa novela. Muito pouco, mas não passava era do “Pantanal”, passava…

Mariano: Acho que essa aí era “Ana Raio e Zé Trovão”. Essa Dolores Estrada…

Macedo: Ah, então eu confundi!

Mariano: Foi depois…

Macedo: É, está certo…

Mariano: É porque do “Pantanal” eu sei quase tudo! [Risos]

Domingos: Mas existe um apelo que a mídia reconhece que chega nas pessoas essa temática da viola.

Mariano: É. Especialmente porque hoje a gente entende que a viola conquistou vários outros espaços além da cultura popular. Além da música caipira propriamente dita. Hoje, por exemplo, aqui em Brasília a gente tem o curso de viola caipira que se eu não estiver enganado acho que já tem vinte anos de duração, que foi fundado pelo Roberto Corrêa. Então é a academia da viola caipira, então a gente entende que aí a partir disso teve outro curso, já a nível de curso superior lá em São Paulo, que eu não sei se ainda continua, mas já teve, não sei bem qual faculdade, é licenciatura ou graduação, não sei, no campo da viola caipira. E isso tudo ajuda a gente a perceber que a viola já alcançou vários outros ambientes além da música caipira. E isso a gente considera relevante e importante, porque de repente através disso… E é unânime. Teve um seminário em 2016 aqui em Brasília, Seminário Nacional da Música de Viola Caipira no Brasil Contemporâneo. Aonde veio vários violeiros do âmbito nacional. Fernando Deghi, aquele menino lá do regional, esqueci o nome dele, Ronaldo Antunes? Veio vários…

Macedo: É o Arnaldo Freitas.

Mariano: Arnaldo Freitas. Então veio alguns bons violeiros. E foi um momento que a gente viu como que ela [a viola] se espalhou. E uma opinião unanime que mesmo aqueles que não têm em seu repertório a música caipira, mas reconhecem o valor simbólico que ela representou naquela situação. Então acho que é isso, por aí.

Domingos: Macedo, como você encontrou a viola caipira?

Macedo: Com doze anos de idade minha mãe me deu um violão de presente, o qual tenho até hoje. Mas eu já escutava aqueles programas de rádio antigo, de TV, nossa saudosa Inezita Barroso. E eu via que faltava um pouquinho do som. Aí depois, se não me engano, em 2000. Não, antes disso teve um episódio, em [19]97. A primeira vez que eu vi uma pessoa tocar uma viola ao vivo foi o Zé Mulato. Eu fui num show do Zé Mulato e Cassiano. Aí eu falei: “nossa, aquele instrumento, ele é bacana!” Foi aqui em Brasília, aqui na praça do Bicalho, se não me engano ou praça do DI, aqui em Taguatinga centro mesmo. Aí por meados de 2000, foi 2002, eu comprei uma viola. E daí estou até hoje embaraçando os dedos nas cordas aqui. Pelejando pra aprender alguma coisinha!

Domingos: Mas o começo você teve professor?

Macedo: Não, não. Eu acho que é um pouco de egoísmo nosso a gente falar: “ah, eu aprendi sozinho.” Porque é muito egoísmo isso aí. Eu não tive aquele professor pra entrar na aula e me ensinar o bê-á-bá, pegar na mão e ensinar, você faz aqui, essa aqui é a nota, tal. Não tive isso. Mas o mundo é uma escola. Eu sempre fui muito fominha por viola e eu sempre procurei estar junto desses violeiros mais antigos, mais contemporâneos que aqui em Brasília nós temos muitos, alguns já até falecidos. Pessoas boas de viola, boas de cantoria, mas que infelizmente ficaram e estão no anonimato até hoje. E eu, graças a Deus, desfrutei muito do prazer de conviver com essas pessoas. Então queira ou não queira só de você ver alguém tocar, você cantar junto com ele, ali é uma aula. Então eu tive essa aula. Essa aula de vida, não tive essa aula de ir na escola, mas então eu acho um pouco egoísta se eu falar que aprendi a tocar sozinho e eu não aprendi, eu tive todo esse mundo como meus professores, como minha escola.

Domingos: E como funciona a dinâmica da dupla? O que cada um faz, as vozes, as violas, como vocês pensam a dupla?

Macedo: Olha, a gente procura seguir esse estilo, a gente procura sempre seguir o estilo, mas no final você acaba desenvolvendo seu estilo próprio. Pelo nosso timbre de voz a gente se assemelha muito com até o próprio Zé Mulato e Cassiano, Tião Carreiro e Pardinho, esse pessoal de um timbre de voz mais grave e outro mais agudo. Viola e violão. Aí tecnicamente falando, não é Mariano? Uns falam que a voz que aparece mais no caso é a minha que se destaca, seria a primeira e a dele a segunda. Agora, isso aí é um papo que dá muito assunto…

Mariano: Vão fazer um longa metragem se for falar disso aqui! [Risos]

Macedo: É um longa metragem! Mas assim, é primeira voz e segunda o nosso estilo.

Mariano: A gente, se eu não tiver enganado não tem uma data muito exata de formação da dupla, salvo engano, certamente é dentro dos quinze anos, por aí. Não é?

Macedo: É!

Mariano: Está dentro de uns quinze anos. Isso considerando a primeira vez que a gente foi no programa do Luiz Rocha “Brasil Caipira”. Porque antes disso a gente já tinha a formação da dupla, cantava nos lugarezinhos aí, tudo. Mas assim, formalmente a gente considera isso, um registro que a gente tem inclusive nas redes sociais aí. Porque tem como a gente comprovar isso. Acho que hoje a gente nos divide, mais ou menos, eu acho que esse campo artístico aí eu confio muito no Macedo, sabe? No campo artístico, a gente tem um trabalho autoral, um CD, primeiro CD de carreira, teve muita sugestão dele. Teve um produtor também que acompanhou a gente, é o Vanderley. Da dupla Vanderley e Valtecy, que é nossos colegas também aqui de Brasília. E outros, o Valtecy também porque o Valtecy é um personagem que inclusive ele estava no dia que a dupla se conheceu. Ele estava…

Macedo: Estava presente…

Mariano: Estava presente naquele ambiente ali. Então acho que aí a partir disso essa dupla pra gente são grandes amigos hoje em dia nossos. Que ajudou, o Vanderley ajuda a gente na parte musical, Valtecy na parte moral. Porque é como o Macedo falou, eu acho que o mundo é uma escola. E tem vários professores. Professor não é só aquele da academia, professor é aquele que te dá: “olha, tu pega aquele negocinho e faz assim e tal.” Um conselhosinho. Acho que esses são grandes professores. E o Valtecy é um deles também. Então esse campo artístico eu confio muito nele. E a gente, a partir de um tempo pra cá, a gente tem aproveitado também dos mecanismos de incentivo à cultura que o Estado oferece. Eu fiz faculdade de cinema, depois da faculdade eu fiz alguns outros cursos de captação de recursos na cultura e etecetera. E a gente entende que a partir, inclusive, da constituição de [19]88 que o Estado, uma das obrigações do Estado é fomentar a cultura. Então a gente se apropria disso através desses editais que tem aí. Já tivemos sucesso em alguns. Em muitos não. E assim a gente vai levando, aqui no DF, por exemplo, a gente já conseguiu realizar alguns bons projetos a partir dessas leis de incentivo e acho que isso é importante. Então essa parte a gente absorve, eu particularmente absorvo esse campo burocrático de produção de mesa. E ele está mais no campo artístico. Aí eu acho que a gente consegue desenvolver algumas boas coisas nesse sentido.

Macedo: Isso. E respondendo a pergunta, acho que musicalmente falando a melhor resposta seria: a gente procura cantar em dueto. Porque definir primeira e segunda voz é um assunto bem complicado.

Domingos: Muito bom, cantar em dueto!

Domingos: Vamos botar uma moda na prosa?

Macedo: [Dedilhando a viola] Vamos botar moda na conversa!


Macedo: Essa depois se quiser a gente fala o nome todinho, se quiser editar até pego um CD ali do carro depois e deixo com vocês. Mas o nome dela é “Vacina contra a falsidade”. Ritmo querumana. É composição nossa mesmo.

[Tocam na viola e violão e cantam a música “Vacina contra a falsidade”, composição de autoria de Macedo e Mariano:]

Saudade palavra cruel que amarga igual fel no meu coração
Quando invade o meu pensamento relembro momentos de doce ilusão
Iludido por uma bandida que roubou um dia o meu coração
Coração que foi dilacerado sem ter piedade e sem compaixão

Hoje vivo sem ter alegria, em grande agonia numa solidão
Solitário, triste, amargurado, até embriagado e em depressão
Até dizem que estou estressado isso é papo furado não sofro disso não
Mas só sei que padeço um bocado, pois fui enganado por uma paixão

Aquela fingida arruinou minha vida com suas mentiras e com falsidades
Foi embora fugindo com outro mas se arrependeu, mas agora é tarde
Ontem mesmo ela me procurou fez juras de amor por toda eternidade
Mas não quero seu amor fingido, pois fui vacinado contra a falsidade.

 

Domingos: Linda, linda, linda… E Brasília, pensando Distrito Federal, é uma terra de viola?

Macedo: Sim.

Mariano: Ah, é!

Macedo: Com certeza!

Mariano: A gente defende isso sim. A gente pode considerar inclusive, particularmente não fiz esse levantamento por meio de pesquisa, mas se você for em qualquer loja de instrumento, apesar de que hoje essa venda física caiu bastante, muitos vendem pela internet, on-line. Mas se você for em qualquer loja física aqui no centro de Taguatinga, centro de Ceilândia, há uns quinze anos atrás, por exemplo, era difícil você ver uma viola caipira, quando tinha era aquelas assim mais destabelada, meio que um berimbau lá pra gente. Mas hoje em dia tem viola muito refinada e o próprio comércio já é prova disso. Tem muita gente, aqui no DF, se a gente começar a falar aqui são muitos nomes.

Macedo: Eu sou exemplo disso, quando eu comprei minha primeira viola eu não tenho exato certeza da data, se foi em 2000 ou 2002. Mas demorou três meses pra receber. E de uma marca bem popular hoje, que é a Rozini. Demorou, veio de são Paulo, demorou três meses e hoje graças a Deus aqui em Brasília, se eu não me engano nós temos quatro ou cinco luthiers e todos fazem…

Mariano: Que a gente conhece, deve ter mais ainda!

Macedo: Isso de luthiers. Agora de violeiros, nós fazemos parte da associação do Clube do Violeiro Caipira de Brasília, se não me engano, lá são uns quarenta associados.

Mariano: Pra lá… É. Ativos.

Macedo: Ativos, fora igual eu falei no início da reportagem, fora o pessoal do anonimato.

Mariano: A gente, por exemplo, integra uma turma dessas do anonimato aí que toca sua violinha de dez em dez dias, quinze em quinze dias, turma dos violeiros aí…

Macedo: Isso!

Mariano: Então assim, tem muitos violeiros, tem demais…

Macedo: Tem. E vamos até ver se a gente muda Brasília capital do rock pra capital da viola. [Risos] Porque aqui já é um celeiro musical bacana!

Mariano: É, tem um mais antigo aí que fala que Brasília é a “arca de Noé musical”, acho que cultural. E é verdade mesmo porque desde sua formação Brasília é formada por gente de todo lugar do Brasil. Nordeste tem um peso muito forte aqui. A turma da Ceilândia ali, inclusive. Mas tem gente de todo lugar.

Macedo: Brasil inteiro, se procurar você acha aqui em Brasília.

Domingos: E como é viver num lugar onde a gente tem pessoas vindas de todos os lugares do Brasil e também do mundo? Como é viver em Brasília?

Macedo: Olha, eu particularmente gosto, gosto muito. Como eu nasci aqui a gente se acostuma, mas a gente acostuma com o que é ruim também e eu não vejo por esse lado, eu gosto daqui, acostumo pela coisa boa. E a viola já teve pior, já teve uns momentos piores aqui. Quando alguém fala em música caipira já fazia cara feia. Sabe? Hoje não, hoje a gente já conseguiu, não é Mariano? Passar por várias portas, várias barreiras que foi graças à viola que nós entramos em alguns lugares, graças à viola.

Mariano: A gente tem uma locação física aqui que é o Clube do Choro. Agora esses dias pra trás a gente fez uma participação. Aqui tem uma orquestra inclusive, Orquestra Roda de Viola. Uma violeirada organizada inclusive hoje pelo Pedro Vaz. E assim, são muitas apresentações que eles fazem… E numa delas agora no Clube do Choro ali que foi casa cheia lotada, lotada até sair pelo ladrão. E em teatro a viola… A gente escuta, a gente não participou dessa geração de um preconceito muito acentuado à viola caipira, à música caipira. Mas a gente tem muitos depoimentos desses amigos nossos mais antigos, por exemplo, Zé Mulato e Cassiano, outros violeiros contemporâneos a eles, que realmente relatam que o preconceito era pior ainda. É muito, naquele tempo eles dizem que entravam no ônibus e se eles sentassem aqui a pessoa saía e sentava do outro lado. Porque realmente tinha aquele estigma de ser vagabundo. Esse estereótipo que talvez isso ainda, infelizmente a gente ainda colhe frutos amargos disso. Mas hoje está bem melhor. Hoje muito teatro, Teatro Nacional que hoje infelizmente é fechado, mas Zé Coco do Riachão, assisti apresentação dele lá. Do próprio Zé Mulato e Cassiano, casa cheia, lotada. Então eu acho que é como o Macedo sempre fala, tem muito a melhorar, mas já alcançou um patamar muito bom. Já alcançou um patamar muito bom.

Domingos: E qual a importância para vocês desses caras que vieram antes, tipo Zé Mulato e Cassiano mesmo? Goiano? Essa turma que esta aí já segurando a bandeira?

Macedo: Isso é a base. É a base, a gente não consegue fazer uma casa, um prédio se a gente não tiver o alicerce ali, não é? E eles, como Mariano falou, às vezes a gente não chegou a pegar esse preconceito, essa dificuldade que essas duplas antigas teve. E eles passaram por isso e venceram. Então serve pra gente como um espelho, como uma grande inspiração porque apesar de tudo, dessas dificuldades até hoje podemos falar que somos amigos do Zé Mulato e Cassiano. E em primeiro lugar somos grandes fãs e admiradores da obra e do trabalho deles. A gente cita eles como referência porque está aqui no nosso quintal, mas essa gama de violeiros que nós temos aí no nosso Brasil inteiro, que com certeza foi o alicerce da nossa música. Não só a música caipira, mas o que deu origem a ela, ou, melhor dizendo, que ela deu origem, que é a música sertaneja atual que vem de lá de cima, lá de baixo, lá das nossas raízes. (Continua…)